
Essa não é uma pergunta técnica, nem ideológica. É uma pergunta de liderança. Ela atravessou a minha escuta durante a entrevista com Ricardo Voltolini, não pelo dado científico que já conhecemos -, mas pelo que ele revela sobre o tipo de decisão que seguimos adiando e sobre o tipo de líder que seguimos normalizando.
Dados científicos mostram que o Rio Grande do Sul está entre os territórios do mundo com maior probabilidade de ser afetado pelas mudanças do clima. Isso exige o óbvio: políticas públicas mais preparadas, investimento em prevenção, planos de adaptação, estratégias de mitigação. Tudo isso já está escrito, pesquisado, validado.
A Crise de Coragem
O problema não é falta de conhecimento. É falta de coragem. Porque agir agora não rende voto. Não cabe em mandato curto. Não gera foto, corte ou slogan. E é exatamente aí que a liderança é testada.
Falar sobre futuro exige um tipo diferente de líder. Não o líder do discurso correto, mas o líder da decisão difícil. Aquele que entende que governar não é agradar é assumir responsabilidade.
Na iniciativa privada, esse movimento já começou. Empresas estão sendo cobradas pelo impacto que geram, pelas escolhas que fazem, pelo legado que deixam. Não por consciência plena, muitas vezes, mas porque ignorar o futuro se tornou um risco grande demais.
O Legado da Gestão Pública
Na gestão pública, ainda parece faltar essa mesma pressão interna. Seguimos reféns de decisões que protegem carreiras, não territórios. Liderança consciente não nasce do cargo. Nasce do comportamento. Da capacidade de olhar além do próprio mandato, do próprio nome, do próprio ego.
Prevenção não dá palco. Adaptação não viraliza. Mitigação não ganha aplauso. Mas salva vidas. Quando um líder escolhe não agir agora, ele escolhe transferir o custo para alguém que não teve voz naquela decisão. E isso também é uma escolha.
Talvez a pergunta mais honesta que possamos fazer aos nossos gestores não seja sobre promessas, mas sobre legado. O que você está disposto a perder hoje para não destruir o amanhã? Porque liderar, em tempos de crise climática, não é ser popular. É ser responsável. E isso, definitivamente, não é para qualquer um.