Quem disse que a fila anda, nunca foi para Florianópolis

Eu moro onde você passa férias … grande porcaria. Morar em cidades turísticas pode ser muito bom pra botar inveja nos outros, mas a realidade é dura, e cara.

No trânsito, quando tem um caminho alternativo, você só tem o privilégio de escolher qual fila quer pegar, e não a hora que quer chegar nem o stress que quer evitar.

Falei Florianópolis, mas pode ser qualquer praia ou destino turístico de verão, ou especialmente, nas férias oficiais gerais da nação, os recessos coletivos de final de ano e este que vos fala, o mês de janeiro.

Todo mundo vai para o mesmo lugar, tentando fazer tudo ao mesmo tempo, e não tem como não ter fila com tanta gente junta por areia quadrada, mesmo com praia alargada. Muitos vão nessa época por ser a única opção, outros, que não entendo, porque gostam mesmo dessa confusão cara e caótica.

Esse fenômeno de manada do mundo moderno é irritante. A gente vai na onda conforme a sociedade cheia de datas e compromissos para fazer a roda girar ditam, sem pensar muito, arrastados pela falta de senso comum até na hora do descanso.

E vender um ideal de destino turístico é fácil, com campanhas de como a qualidade de vida é maravilhosa, a natureza exuberante, apontando tudo de bom e colocando embaixo do tapete tudo que é ruim. Daí o turista vem, sedento por diversão e bora passar raiva com virose nas praias próprias para banho de micose com coliformes. A colônia de bactérias te espera de braços abertos!

A culpa não é do turista, nem do turismo, é da forma como a cidade funciona antes das temporadas e como se posiciona para atrair mais gente sem o planejamento que deveria existir para quem já vive num caos mesmo antes de toda turistada chegar. E veja bem, a ilha da magia é tão mágica que a poluição das praias é culpa do queijo coalho, e não da falta de estrutura de saneamento.

Sem menosprezar o impacto social e econômico ou ser turistofóbica, mas o turismo tem sim seus impactos negativos, sejam ambientais, estruturais e no custo de vida de quem mora onde você passa férias. A Ilha do Campeche, um paraíso teoricamente preservado, tem sido invadida por hordas de predadores turísticos que deixam suas pegadas em forma de lixo e superlotação. Não é o único lugar lindo de Florianópolis, mas é a batizada de caribe catarinense esse ano e portanto, a bola da vez para selfies e filas.

Não quero sair borrifando a cara dos turistas como um protesto em Barcelona fez esses tempos ( mentira, quero sim! ), mas repensar o modelo turístico é urgente. Nossas cidades não tem como sobreviver nessa sazonalidade insana sem uma estrutura decente e voltada para a preservação, mobilidade e respeito ao morador, que às vezes só quer alugar uma casa por um preço justo e não por diária de airbnb.

E eu revoltada de passar 3 horas numa fila pra andar 15 quilômetros já decidi, quero morar onde vocês não passam as férias e nem queiram me visitar só quando o verão chegar.