
No Brasil, onde a taxa Selic molda comportamentos e o investidor ainda é muito mais acostumado à renda fixa do que à economia da inovação, é natural que muita gente olhe para a inteligência artificial com desconfiança. A palavra “bolha” aparece com frequência nas conversas e vejo muitos dos meus clientes investidores perguntam o que eu acho sobre o assunto.
Prever grandes correções no mercado não é uma tarefa fácil. O mais famoso caso é de Michael Burry que apostou contra o mercado imobiliário americano em 2008, na última grande crise. Ele inclusive apontou algumas incongruências nos resultados das empresas de tecnologia e apostou contra elas recentemente.
Todavia, um estudo recente do BTG Pactual indicou alguns pontos que poderiam mostrar que os pessimistas estão novamente errados. No estudo a equipe de research do banco analisou em profundidade os efeitos econômicos da IA sobre produtividade, geração de caixa e valuation das gigantes globais.
Análise do Impacto da Inteligência Artificial
O que o estudo mostra — e o mercado muitas vezes ignora — é que estamos diante de um ciclo com fundamentos bem diferentes da bolha da internet dos anos 2000. Os ganhos de produtividade estimados em torno de 1,3% já começam a aparecer em setores reais da economia, e os investimentos anuais em infraestrutura ultrapassam US$ 1,2 trilhão, gerando uma base econômica capaz de produzir quase US$ 1,7 trilhão por ano em valor adicional.
Para o investidor brasileiro, isso é relevante porque demonstra que o crescimento das empresas não depende de expectativas ou narrativas — depende de fluxo de caixa real. Vemos as empresas de tecnologia que lideram essa transformação operando com margens que raríssimas companhias brasileiras conseguem replicar: quase 40% de margem operacional e mais de 30% de margem líquida. Além disso, contam com balanços sólidos, baixo endividamento e capacidade de financiar seu próprio capex — exatamente o oposto do que víamos em 1999 e 2000. Não é especulação: são fundamentos.
Outro ponto crucial, destacado pelo estudo do BTG Pactual, é que o comportamento do mercado global está muito distante da euforia que caracteriza bolhas, embora muitos tenham dúvida disso.
Sentimento do Mercado e Perspectivas Futuras
Porque quando olhamos para o número de IPOs vemos poucas novas empresas se lançando ao mercado, o sentimento de investidores permanece negativo. Metade dos gestores consultados pelo BofA acredita que “já estamos em uma bolha”. Historicamente, o consenso era no mercado financeiro.
Do lado tecnológico, a curva de inovação continua acelerando. Para o investidor brasileiro, isso significa que a exposição internacional via ações, ETFs e fundos (este último mais eficiente tributariamente para o brasileiro) tende a capturar um ciclo tecnológico consistente, não um movimento especulativo. O novo clico de queda de juros que o mundo está entrando favorece ativos de crescimento, tanto que o fluxo estrangeiro tem sustentado a alta de mais de 35% do Ibovespa.
Conclusão: Inteligência Artificial como Motor Econômico
A inteligência artificial não é uma bolha. É um novo capítulo econômico. Entretanto, não estamos livre de um exagero na valorização das ações das empresas de tecnologia em certo momento. Para o investidor brasileiro focar demais no CDI e de menos nos ciclos que definem o valor das empresas ao longo das próximas décadas pode ser um erro, assim como, a falta de diversificação internacional do seu patrimônio.