Onde Está a Inovação?

Quando pensamos em inovação, ainda é comum associar o termo a tecnologia. Imaginamos robôs de última geração, inteligência artificial e aplicativos revolucionários. Mas será que inovação está apenas na tecnologia?

Para responder a isso, precisamos voltar aos fundamentos. Joseph Schumpeter, o “pai” da teoria da inovação, já nos alertava no início do século XX sobre a “destruição criativa”: o processo em que o novo destrói o velho para criar valor econômico. Décadas depois, Peter Drucker reforçou que inovação é, antes de tudo, um ato de gestão: identificar oportunidades e criar algo útil a partir delas. E, mais recentemente, autores como Clayton Christensen mostraram que a força da inovação disruptiva não está só na tecnologia em si, mas no modelo de negócio capaz de atender necessidades antes ignoradas.

Em outras palavras: inovação não mora apenas na tecnologia — ela vive na interseção entre tecnologia, negócio e gestão.

Para ilustrar, basta olhar para alguns casos clássicos. A 3M não revolucionou o mundo com um produto sofisticado, mas com a gestão da criatividade. Os famosos post-its surgiram de uma tentativa “fracassada” de criar uma cola superforte — e só viraram sucesso porque a empresa tinha um modelo de gestão que incentivava experimentação. Já a Apple transformou a indústria não por inventar os tocadores digitais, o smartphone ou o tablet, mas por integrar tecnologia com design, usabilidade e estratégia de negócio.

O caminho inverso também ensina, porque os gigantes acertam, mas erram muito. O caso clássico da Kodak ilustra isso dolorosamente. Seus engenheiros inventaram a câmera digital em 1975. A tecnologia estava ali, mas faltou coragem para “destruir” seu lucrativo modelo de venda de filmes fotográficos. Eles ignoraram a máxima de Clayton Christensen sobre a “inovação disruptiva”, que muitas vezes começa inferior e mais barata, até dominar o mercado. E há muitos casos iguais, a história corporativa está repleta de cemitérios de luxo habitados por empresas que tinham a tecnologia, mas não eram inovadoras.

Inovação no Brasil e no Mundo

No Brasil, os exemplos se multiplicam. A Embraer tornou-se referência mundial não apenas pela tecnologia aeronáutica, mas pela capacidade de ler o mercado e desenvolver modelos de negócios adequados a nichos pouco explorados: a empresa é líder na produção de jatos comerciais com capacidade para até 150 assentos. É também a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, atrás apenas da Airbus e da Boeing. O Nubank, por sua vez, inovou menos no produto (um cartão de crédito) e mais na experiência do cliente e no modelo operacional simplificado.

E aqui na Serra Gaúcha também vemos sinais dessa combinação virtuosa. Empresas tradicionais da região têm buscado transformar processos, cultura e modelos de negócios. Quando a Marcopolo investe no ônibus elétrico Attivi ou a Randon desenvolve o eixo elétrico e-Sys, elas não estão apenas fabricando novos produtos; estão se reposicionando como empresas de tecnologia e mobilidade sustentável. A inovação também acontece quando uma metalúrgica adota dados para otimizar produção; quando as empresas de software redesenham seus produtos e modelos de negócios para escalar; ou quando startups surgem resolvendo problemas do agronegócio, da indústria ou do varejo com um olhar multidisciplinar. Não é apenas tecnologia: é visão, estratégia e execução.

Então, afinal, onde está a inovação?

Ela está no encontro entrea tecnologia viável (como fazer),o modelo de negócio sustentável (como pagar a conta)e a gestão de pessoas e a cultura (quem faz acontecer).

Tecnologia é um meio, não um fim. A inovação não está em um lugar só, ela está onde existir disposição para criar valor — e gente preparada para fazer isso acontecer.