COLUNA

O Paradoxo do Dinheiro: quem escreveu as regras do jogo?

Enquanto países em desenvolvimento são advertidos por qualquer tentativa de afrouxar suas políticas fiscais, os EUA imprimem mais moedas sem abalar sua autoridade ou credibilidade

Nota de 100 dólares pendurada em um anzol, simbolizando fraude ou armadilha financeira.
Imagem: Google Gemini

Desde os primeiros passos na economia, aprendemos que imprimir moeda em excesso gera inflação. Essa lição, repetida como uma verdade absoluta, foi transformada em um pilar da política monetária moderna. Mas raramente nos perguntamos: quem escreveu essa regra? E, mais ainda, quem tem o privilégio de quebrá-la sem consequências?

A resposta é simples e, ao mesmo tempo, perturbadora: os Estados Unidos. A maior economia do mundo é também a que mais imprime moeda sem lastro para sustentar seu próprio sistema. Trilhando um caminho oposto ao que impõe aos demais países, os EUA expandem sua base monetária em trilhões sempre que necessário, alegando defesa de sua economia e estímulo ao crescimento global. E o mundo aceita — porque o dólar é a moeda global.

O que deveria ser uma contradição gritante se torna uma norma silenciosa. Enquanto países em desenvolvimento são advertidos e punidos por qualquer tentativa de afrouxar suas políticas fiscais, os EUA seguem imprimindo moeda sem abalar sua autoridade ou credibilidade. A “austeridade” é vendida como única via possível. As nações desenvolvidas costumam impor aos outros restrições que elas mesmas nunca seguiram em seus momentos de ascensão.

Mas o sistema tem seus limites. Aqueles que ousam questionar essa estrutura são, historicamente, marginalizados ou politicamente cancelados. Seja por vias diplomáticas, econômicas ou até mesmo militares, o recado é claro: não desafie a ordem do dólar.

Não se trata apenas de economia. É um jogo de poder, de narrativa, de hegemonia. Um império não se sustenta apenas com armas — sustenta-se com símbolos. E o dólar é o mais poderoso deles.

A filosofia nos convida a olhar além da superfície, a desconfiar do que é apresentado como óbvio. Nesse contexto, o “controle da inflação” ensinado aos demais parece menos uma preocupação econômica e mais uma ferramenta de dominação geopolítica. O que nos vendem como equilíbrio fiscal pode, na verdade, ser uma camisa de força ideológica que impede o crescimento de nações soberanas.

Compreender essa engrenagem é o primeiro passo para imaginar um novo modelo. Um modelo que não se baseie no medo de imprimir moeda, mas na coragem de imprimir futuro. Talvez seja hora de revisitar a pergunta fundamental: se a impressão de moeda pode financiar guerras, bancos e corporações, por que não pode financiar educação, saúde e infraestrutura?