O fantasma da recessão econômica

Inflação para fevereiro e a aprovação do governo personificam o fantasma da recessão econômica

Imagem por Freepik
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A pior inflação para fevereiro em 22 anos e a aprovação do governo nas mínimas personificam o fantasma da recessão econômica no Brasil. Mas esse fantasma não assombra apenas nossas terras. As mudanças bruscas de Donald Trump expõem as fragilidades da economia dos Estados Unidos da América e ressuscita a possibilidade de uma queda econômica. Enquanto isso, há esperança de um acordo de paz na Ucrânia e a guerra comercial impacta o humor do mercado com todos países levantando suas armas econômicas.

Resumo do Mercado:

O CDI voltou a apresentar o melhor desempenho entre os indicadores no mês de fevereiro. O destaque fica com a bolsa americana que entrou em uma trajetória de queda.

Cenário Macro

O governo de Trump segue pautando o cenário macro. Embora haja opiniões divergentes, a realidade é que a agenda econômica escolhida pelos americanos está sendo implementada com rigor e velocidade espantosos.

Pois bem, os números do mercado de trabalho e da inflação são acompanhados de perto pelos investidores que tentam ler quais serão os próximos passos do Fed. As barreiras tarifárias são o plano de fundo que mexem com as expectativas, por isso os movimentos do mercado têm sido abruptos. Diante deste cenário, investidores já ventilam a possibilidade de uma recessão econômica nos EUA mesmo que a confiança dos empresários permaneça alta e expectativas de mais medidas pró-mercado sejam iniciadas nos próximos meses.

Ásia e Europa

A vitória do partido considerado de centro não aliviou as preocupações com a maior economia do continente Europeu. As preocupações estão concentradas na possibilidade de uma flexibilização das contas do governo algo que faz os alemães tremerem.

O Banco Central Europeu, por sua vez, parece enxergar uma trajetória benigna da inflação e apoiado sobretudo na fraca atividade econômica da Zona do Euro deve seguir cortando juros neste primeiro semestre.

O drama chinês segue. Diante das tarifas americanas o governo comunista tenta mostrar força levantando seus escudos com medidas de retaliação. Entretanto, o setor imobiliário segue sangrando e observa-se queda contínua nos preços dos imóveis novos e usados. É verdade que as medidas de incentivo ao consumo melhoraram alguns números, mas o chinês está longe de ser um consumidor ávido. O tigre asiático ainda enfrenta o temor de viver uma deflação. O índice de fevereiro apontou para uma nova retração dos preços ao consumir.

Brasil

Eu poderia resumir a situação do Brasil em controle dos preços dos alimentos e luta para manter o crescimento, porém isso não é o bastante para entendermos o vendaval que vem da política e atinge a economia.

A inflação dos alimentos é o catalizador da queda de popularidade do atual governo. Fevereiro, por exemplo, teve a maior inflação nos últimos 22 anos. Os alimentos 7% em 12 meses; o ovo de galinha apresentou alta de 15,39% no mês de fevereiro, o brasileiro nota que seu dinheiro fica mais curto mês após mês. O governo anunciou medidas que não repercutiram e nem devem mudar a sensação do povo.

Não obstante, a alta dos juros funciona como um frei de mão para a economia. Por isso, ela já mostra desaceleração na atividade econômica, os setores de serviços e varejo em janeiro vieram abaixo do esperado e sinalizam que a economia está com dificuldades para andar. Bom para o mercado que torce para que a Selic não precise subir até os 15% atualmente projetados.

Além disso, a possibilidade de uma recessão parece ligar o alerta do governo. Medidas de incentivo ao crédito e a tensão nos membros da equipe econômica o mantêm-no acuado.

Conclusão e comentários

Tudo indica que caminhamos para vivenciarmos uma recessão econômica, seja nos Estados Unidos ou no Brasil. Porém, os motivos são diametralmente diferentes. O Primeiro está trocando a matriz econômica antiga baseada em aumento do Estado a partir da contratação de mais funcionários públicos e aumento de gastos via aumento de dívida para contas mais equilibradas através do corte de gastos para passar o protagonismo do setor privado.

Enquanto o segundo, parece focado em reduzir os estragos da queda da popularidade do governo para manter a força política já pensando nas futuras eleições. Nos corredores ainda circulam boatos que a torcida por uma supersafra é grande para salvar o PIB do ano.

Curioso que o mundo viu no caso da Argentina em menor escala como essas mudanças e posicionamentos são dolorosos, por isso seria esperada a queda da bolsa americana na medida que aumentam as apostas de uma recessão econômica nos Estados Unidos e no Brasil.

As falas corriqueiras do presidente do Banco Central antes da posse contrastam com o silêncio que se observa agora. Nada diz e pouco é mencionado tanto por imprensa quanto por membros do governo. A discrição de Galípolo fez emergir a possiblidade que na próxima reunião do COPOM marcada para dia 18 de março, a autoridade monetária poderia sinalizar um possível fim do aumento de juros.

Nas ruas o que mais se ouve é “o dinheiro não vale mais nada”, mesmo sem o conhecimento econômico especializado, a população brasileira sabe quando algo não está certo na economia. A inflação galopante dos alimentos somada ao fantasma da recessão que assombra o empresariado, e agora os políticos, poderia jogar o país em uma situação difícil. Contudo, para o investidor brasileiro a perspectiva de queda de juros poderia melhorar o ambiente desafiador que o mercado brasileiro iniciou 2025. Apoiado em fatores externos, o real é a moeda que mais se valoriza entre os países emergentes no ano.