Grupo de executivos em reunião, com foco em mulher com olhos vermelhos.
Imagem: Google Gemini

Por Rafaela Rodrigues

Há alguns dias, o Sandro Wegner publicou um artigo com uma pergunta que deveria ecoar nas salas de diretoria de todo o país: “Sua empresa sobreviveria a um ataque cibernético?”

Como contexto, participamos juntos do war room organizado pela APCRS, uma dinâmica gamificada que reproduziu, com precisão, a complexidade de um ataque real. Ali, ficou evidente a apreensão, o silêncio que surge quando as pessoas deixam de se comunicar e o instante em que até os mais céticos perceberam que – sim, é exatamente assim que acontece.

E acontece rápido!

Mas hoje, quero te convidar a olhar para algo ainda mais inquietante: o que acontece no dia seguinte? Porque sobreviver ao ataque é apenas a primeira cena. O ato mais crítico vem depois: a capacidade – ou incapacidade, da empresa continuar existindo.

A Estratégia e a Tecnologia

A Fundação Dom Cabral (4ª melhor escola de negócios do mundo) tem me ensinado algo que tenho carregado na alma desde então: estratégia não é sobre o que fazer, mas sobre o que sustenta o que fazemos. E aqui está a verdade que muitos ainda ignoram: a tecnologia não sustenta só sistemas – sustenta modelos de negócio inteiros. A cibersegurança não protege apenas dados, protege a continuidade, a reputação e a própria estratégia corporativa. Quando falamos de Estratégia Empresarial, aprendemos sobre vantagem competitiva, proposta de valor, cadeia de valor, hiper competitividade. Mas o elemento invisível que conecta tudo isso hoje, o que tu achas que é?

Sim – tecnologia.

O core das empresas mudou. O organograma mudou. O fluxo de decisão mudou. Mas a mentalidade ainda está presa a 2010.

Penso que quando falamos de negócios e os dados que estes negócios geram, há algo que deveria estar estampado nos conselhos: dados não servem apenas para decidir melhor, servem para sobreviver. E se os dados são o sangue que corre pelas veias da organização, a cibersegurança é o que impede a hemorragia.

Cibersegurança como Pilar Estratégico

O DBIR 2025 mostrou que a exploração de vulnerabilidades cresceu significativamente, credenciais roubadas se tornaram o vetor dominante e o uso de IA generativa abriu um novo flanco de exposição. Isso significa que não existe mais estratégia sem segurança. Toda decisão depende da integridade dos dados que a sustentam.

E é aí que o problema começa, as empresas precisam ser ambidestras: explorar o novo enquanto executam o core. Mas como explorar inovação se a infraestrutura é frágil? Como escalar negócios digitais se a plataforma pode cair? Como operar sem medo se a confiança já foi comprometida? A verdade incômoda é que, sem cibersegurança, não existe ambidestria, existe vulnerabilidade disfarçada de inovação. A empresa quer crescer em novos horizontes, mas ainda desaba com incidentes banais.

No ataque simulado no evento da APCRS, alguns participantes entraram em stress outros atônitos. Não era técnica. Era comportamento. E comportamento revela maturidade. A pergunta do Sandro: “sua empresa sobreviveria amanhã?” É apenas a porta de entrada. A minha provocação é outra: sua empresa saberia o que fazer no dia seguinte? Ou continuaria procurando culpados enquanto a estratégia escorre pelo ralo? Porque segurança não é TI. É governança. É risco. É modelo de negócio. É futuro.

Algumas organizações ainda afirmam: “não somos empresa de tecnologia”. São sim. Todas são. Bancos são plataformas digitais. Varejo é algoritmo de precificação e logística. Logística é torre de dados. Saúde é ecossistema interconectado. Educação é IA, sistemas de acesso e dados sensíveis. Indústria é Automação, IoT, OT, robótica e sistemas integrados. E se tudo é digital, tudo é risco. E se tudo é risco, tudo é estratégia.

Confiança e Preparo: Pilares do Futuro

No fim, a pergunta central não é sobre o ataque. É sobre o que sustenta a empresa quando ele chega. Numa organização moderna, o centro não é o financeiro, nem o comercial, nem o produto. O centro é a confiança. E confiança é o único ativo que, uma vez perdido, nenhum investimento recompra.

Cibersegurança, portanto, não é sobre “evitar ataques”, mas sobre proteger o princípio mais valioso da estratégia: a capacidade de continuar operando quando tudo ao redor desmorona. É isso que diferencia empresas resilientes de empresas vulneráveis. É isso que separa quem vai sobreviver de quem vai virar estatística. É isso que precisa estar na agenda do conselho, agora!

E, portanto, se o Sandro te perguntou se a tua empresa sobreviveria a um ataque amanhã, eu te pergunto: ela sobreviveria à falta de preparo no dia seguinte? Porque, no fim, a pergunta mais estratégica de todas não é sobre tecnologia. É sobre futuro. E futuro, tu já sabes, protege-se hoje! Agora!

Um grande abraço da Rafa.