Opinião

O ano de 2023 foi positivo para o mercado financeiro

Em um ano marcado por guerras e conflitos, os investidores viram os ativos de risco irem do inferno ao céu e fechar o ano positivos

O ano de 2023 foi positivo para o mercado financeiro

Em um ano marcado por guerras e conflitos, os investidores viram os ativos de risco irem do inferno ao céu fechando com ganhos acima de 20% em muitos países. A mudança da dinâmica inflacionária e o arrefecimento no mercado de trabalho ajudaram na redução dos juros futuros americanos. Diante disso, o mercado já espera o primeiro corte nas taxas de juros em março. Outra tese que ganhou força ao longo de 2023 foi a inteligência artificial. O ano finalizou com apetite ao risco renovado.

Resumo do Mercado:

O melhor desempenho de dezembro foi índice de Small Caps, alta de 7,05%. Destaque também para o Índice de Fundos Imobiliários (IFIX) com ganho de 4,25% no mês. Na tabela abaixo estão os desempenhos dos principais índices:

Cenário Macro

O ambiente externo melhorou depois que dados de emprego americano sinalizaram um cenário menos apertado e da inflação convergindo para a meta. O discurso do Powell logo após a decisão de manutenção da taxa de juros fez com que os investidores apostassem no início do ciclo de queda de juros já em março deste ano.

Embora 2024 seja um ano eleitoral nos Estados Unidos da América, o mercado espera que o pouso suave (soft landing) concretize-se e que o Banco Central Americano tenha sucesso na condução da política monetária, ou seja, controlar a inflação sem causar uma recessão. Fala-se na bolsa americana batendo seu topo histórico neste ano.

Além disso, o novo governo americano terá que enfrentar os déficits fiscais e um cenário geopolítico conturbado. Por isso, alguma volatilidade adicional não é descartada.

Os grandes ganhadores de 2023 foram as empresas ligadas à inteligência artificial. Elas puxaram o mercado acionário americano ao longo do ano e os acontecimentos positivos em novembro e dezembro fizeram com que as ações encerrassem nas suas máximas.

Ásia e Europa

Na Europa o cenário não é tão otimista. Mesmo que a inflação no velho continente também mostre uma trajetória positiva, as economias europeias parecem estruturalmente mais frágeis. Sem numerosas empresas na vanguarda da inteligência artificial, o continente ainda enfrenta problemas com imigração, falta de mão-de-obra qualificada e uma longa guerra em seu território. Desta forma, restam poucos gatilhos para que o otimismo vigore lá.

Na Ásia, o foco é a China que deve se recuperar ou pelo menos não ter uma piora significativa na sua economia. A política econômica tem sido focada em fomentar o consumo doméstico e a crise imobiliária ainda pesa nos números de crescimento do gigante asiático. O Japão, por sua vez, teve um ano muito positivo para as ações. A economia nipônica parece ter renascido em 2023, nada espetacular, no entanto, bem mais animador do que anos anteriores.

Brasil

Todo movimento global ajudou o Brasil. A redução de investimentos externos na China e os altos preços dos ativos na Índia fizeram do país uma das poucas opções de mercados emergentes viáveis.

Sem dúvidas, as ações do governo contribuíram. As reformas realizadas nos governos Temer e Bolsonaro foram mantidas e novas saíram do papel. A reforma tributária foi o grande destaque do ano. Tivemos ainda a aprovação do arcabouço fiscal e de medidas pontuais para aumentar os impostos e ajustar as contas do governo.

Vale lembrar que o ano começou com uma pressão enorme de Lula sobre o presidente do Banco Central para que os juros fossem baixados. Apenas a melhora dos dados de inflação possibilitou que em agosto tivéssemos o primeiro corte na taxa Selic. A partir dali os ativos brasileiros valorizaram-se, as taxas futuras começaram a cair e finalizamos o ano com a bolsa de valores na máxima histórica, real valorizado frente ao dólar e expectativa de aumento dos lucros das empresas com o ciclo de queda juros.

Por outro lado, os riscos ficam centralizados na condução da política fiscal do país. É sabido que o mercado espera a mudança da meta no primeiro trimestre do ano. Porém, fica a dúvida se o governo fará os contingenciamentos nas despesas previstos pelo arcabouço fiscal. Ademais, será escolhido o novo presidente do Banco Central do Brasil podendo impactar na política monetária do país e até pôr em xeque a independência do BC.

Portanto, o mercado está otimista e animado com 2024. São esperados bons ventos para os ativos de risco globais. Dentre os emergentes, o Brasil pode ser o grande vencedor, caso tenhamos uma condução saudável da política fiscal e monetária do país. Temos muito o que melhorar ainda, para se ter noção nosso risco é equivalente a países como: Geórgia, Guatemala, Paraguai e República Dominicana mesmo após a elevação do rating.

Embora o mercado não fale mais em crise, o histórico de elevação das taxas de juros americanas e o enfraquecimento do setor imobiliário historicamente tem deflagrado grandes crises. Fica nosso alerta porque ele parece ter sido desligado ao redor do mundo. Não podemos esquecer dos conflitos geopolíticos cada vez mais intensos, eles podem desencadear movimentos de correção no mercado. Além disso, desde março de 2023 mais de 15 bancos americanos faliram.