Opinião

Nunca antes, nunca de novo

Nunca antes, nunca de novo

Tem dez anos que um grupo formado por centenas de pais, mães, irmãos, primos e amigos entraram na noite que se esfumaçou, sufocou, queimou e matou seus amados jovens. Esta noite não termina nunca e demora mais ainda quando também a culpa parece se esfumaçar, é indefinida, passa pelas entranhas de autoridades, produtores, músicos e proprietários. A mãe lamenta não ter pedido para a filha ficar em casa naquela noite, o sobrevivente sente alívio com inexplicável dor por ter na última hora desistido de ir à festa e agora chora a morte de amigos.

Os gritos, as paredes intransponíveis, os rolos de fumaça o ar que não chega aos pulmões e os pulmões queimando pela toxina. Imaginar os momentos finais, imaginar os celulares que não atendiam ao chamado dos pais, corpos sendo empilhados em caminhões, colocados lado a lado num ginásio para o reconhecimento. A comoção nacional, mídia nacional se transferindo para a nossa amada Santa Maria.

A noite não termina no choro de pais. A noite se aprofunda no choro de Elissandro Spohr, nas desculpas duvidosas de bombeiros, do prefeito, enfim, de quem liberou alvará e de quem teve a infeliz ideia de acender fogos no ambiente altamente inflamável. Ignorância irresponsável e assassina.

Dolo, culpa, arrependimento, remorso dor intensa, para todos nós. Para muitos, dor infinita.

São dez anos, mas para os santa-marienses e para os gaúchos, parece que foi na semana passada. Não se iludam, o Tribunal não condenou os culpados, mas estes estão irremediavelmente punidos em suas consciências. Não nos enganemos, colocar os culpados na cadeia é necessário e fundamental, ainda assim, nunca será consolo suficiente para os parentes e amigos dos 242 mortos. Ainda assim, remorso não se mede, por isso os parentes desejam ver a sociedade penalizando os responsáveis por tanto sofrimento. Só assim entenderão a extensão da solidariedade por suas perdas irreparáveis.

Kiss, nunca se viu tragédia tão dolorida, jamais queremos viver outra semelhante.