Em meio ao burburinho da cidade, entre praças e parques, nas esquinas e nos encontros comunitários, acontece uma revolução silenciosa. Não tem sala de aula, não distribui diplomas, mas transforma vidas e comunidades inteiras. Na Semana do Meio Ambiente, é hora de celebrar e reconhecer o poder transformador da educação ambiental não formal.
Há cerca de 15 dias, presenciei uma cena que me deixou profundamente reflexiva. Parada na BR 470, a caminho de Veranópolis, observei quando um motorista saiu calmamente de seu veículo e despejou resíduos no asfalto. Fiquei paralisada entre chamar sua atenção ou simplesmente recolher o lixo. Mas a pergunta que me assombrou foi mais profunda: como, em pleno século 21, ainda existem pessoas capazes de agir assim?
Não se trata de falta de informação. Em nossa era digital, todos têm acesso ao conhecimento básico sobre os impactos ambientais de pequenas ações. O que falta, então? No meu ponto de vista, falta às pessoas se enxergarem como parte integrante do meio ambiente. Vivemos em uma sociedade que perdeu o respeito e a conexão com o mundo natural, onde recursos são vistos apenas como objetos de consumo.
A educação ambiental não formal é justamente essa ponte necessária entre o conhecimento e a sensibilização. Ela acontece nos interstícios da vida cotidiana, sem a rigidez dos currículos escolares. É o pescador que ensina sobre a importância dos manguezais enquanto conserta suas redes; é o mutirão de limpeza de praia que se transforma em aula prática sobre ecossistemas marinhos; é a feira de trocas que ensina sobre consumo consciente sem precisar de quadro-negro.
Hoje já consumimos muito mais recursos do que a Terra tem capacidade de regenerar. Gosto de fazer uma analogia com nosso salário: se você gastar todo mês mais do que ganha, inevitavelmente alguém vai cobrar a conta. É exatamente isso que o planeta tem feito – enviado a conta dos nossos excessos através de eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade e escassez de recursos essenciais.
Diferente da educação formal, a não formal não está presa a conteúdos programáticos ou avaliações padronizadas. Sua força reside justamente na liberdade metodológica, na capacidade de adaptar-se aos contextos locais e na valorização dos saberes tradicionais. Quando grupos comunitários se reúnem para discutir problemas ambientais locais, não estão apenas compartilhando informações – estão reconectando-se com os ciclos naturais que a vida urbana nos fez esquecer.
A Importância da Educação Ambiental
Em tempos de crise climática e colapso da biodiversidade, precisamos urgentemente de cidadãos ambientalmente conscientes e ativos. A escola formal, sozinha, não dará conta desse desafio. Precisamos de múltiplos espaços educativos, de múltiplas linguagens, de múltiplos saberes. A educação ambiental não formal democratiza o conhecimento ecológico, alcançando pessoas de todas as idades e condições sociais.
A beleza da educação ambiental não formal está em sua capacidade de criar pontes entre conhecimento científico e sabedoria popular, entre gerações, entre diferentes visões de mundo. Quando um grupo de moradores se reúne para discutir soluções para enchentes recorrentes no bairro, estão praticando educação ambiental não formal. Quando artistas de rua criam murais sobre espécies ameaçadas, estão praticando educação ambiental não formal. Quando uma comunidade italiana recebe visitantes para mostrar suas práticas sustentáveis ancestrais, está praticando educação ambiental não formal.
Nesta Semana do Meio Ambiente, convido você a olhar ao redor e perceber quantas oportunidades de aprendizado ambiental existem fora das salas de aula. Talvez você mesmo seja um educador ambiental não formal sem perceber – ao compartilhar dicas de redução de desperdício, ao organizar caminhadas na natureza, ao contar histórias sobre as árvores do seu bairro, ao comprar de um produtor local.
A crise ambiental que enfrentamos exige respostas urgentes e coletivas. A educação ambiental não formal, com sua capacidade de mobilizar afetos, valorizar saberes locais e promover ação direta, é uma ferramenta poderosa nessa jornada. Por isso acredito tanto que precisamos mudar a consciência das pessoas, trabalhar em processos educativos que reparem nossa conexão com a natureza.
Como dizia Paulo Freire:
“A educação não transforma o mundo; a educação muda pessoas e pessoas transformam o mundo.”
A educação ambiental não formal está mudando pessoas todos os dias, em praças, parques, associações comunitárias, centros culturais e quintais. E essas pessoas, pouco a pouco, estão transformando o mundo.