Mulher segurando um relógio digital em meio ao espaço sideral, simbolizando tempo e universo.
Imagem: Google Gemini

Há instantes em que o real parece abrir uma fenda e deixar escapar algo que não pertence ao agora. Você já sentiu aquela estranha familiaridade com alguém que acabou de conhecer? Ou aquela sensação de familiaridade com alguém que acabou de conhecer? Não me refiro aqui necessariamente a vidas pretéritas — embora eu acredite nelas. Falo desta existência, deste agora que respiramos, mas que se entrelaça com raízes que ultrapassam os limites do instante presente.

fatos que compreendemos depois, como peças de um quebra-cabeça que se revelam lentamente. Aquela simpatia imediata, aquela antipatia que nos incomodou no primeiro contato… e que mais tarde ganha explicação quando os acontecimentos se desdobram. É nesse momento que confirmamos o pressentimento inicial: “Eu já sabia… algo me avisou.”

A ciência moderna acompanha essa ideia. Quando Minkowski desenvolveu a geometria do espaço-tempo quadridimensional para explicar a relatividade restrita, uniu espaço e tempo num único tecido, insinuando que o presente é apenas um corte arbitrário dentro de um continuum maior. Não estamos confinados ao instante: somos atravessados por fluxos que nos antecedem e nos seguem, como se nossa consciência tocasse, ainda que de forma tênue, regiões do ser que escapam à cronologia.

Nossa intelectualidade, moldada pelos sentidos, insiste em acreditar que o presente está isolado, cristalizado num tempo linear. Mas o tempo real não é medido por relógios, mas vivido como vibração contínua. A intuição “ultrapassa infinitamente a inteligência”, pois captura o movimento da vida antes que ele se torne forma. A dificuldade em perceber isso é que o corpo lê o mundo com instrumentos físicos; o espírito, porém, percebe antes que a razão compreenda, como se acompanhasse uma música cuja melodia o corpo ainda não escutou.

A própria natureza nos oferece metáforas que revelam esse descompasso. Vemos, no céu noturno, o clarão de estrelas que já morreram há milhões de anos. A luz que hoje contemplamos partiu quando a própria história humana ainda engatinhava. O acontecimento já se extinguiu, mas o seu brilho continua viajando, teimando em chegar até nós. Assim também é a percepção: ela alcança o real somente depois, sempre alguns passos atrás do fenômeno. Por que seria diferente com nossos encontros, pressentimentos e inquietações? Talvez vivamos constantemente atrasados em relação ao que verdadeiramente nos acontece — recebendo apenas o eco luminoso de algo que o espírito já sabia.

Isso nos leva ao cerne desta reflexão: quantas dimensões possui a vida? A consciência está no tempo ou o tempo está na consciência? Talvez não vivamos completamente no presente porque, em essência, não somos criaturas confinadas ao instante. Somos seres cuja existência atravessa planos simultâneos. É nesse espaço invisível — onde o eterno toca o temporal — que o espírito caminha à frente, abrindo caminhos que o corpo só mais tarde alcançará.