Microcontos da Vida

No almoço do dia das mães na casa da avó, com a família toda reunida, descobriu que seu tipo sanguíneo era A e de seus pais e irmãos era O.

Olhou por alguns minutos para os olhos fechados dela e depois jogou a última pá de cal.

De cima do altar, olhando os convidados com cara de espanto, não conseguiu parar de rir enquanto o noivo saía correndo da igreja.

Com os olhos cheios de lágrimas, lembrou do dia em que se conheceram e a sensação que teve de que aquilo não ía acabar bem.

Quando se mudou para aquele prédio, não imaginou que seria síndica pelo resto de sua vida.

A casa toda arrumada pra festa não estava preparada para o que iria acontecer.

As pegadas dos gatos desapareceram na neve.

A presença e perfume dela ficaram na casa meses depois de ter desaparecido.

Brigou com todos seus amigos imaginários e nunca mais falou com ninguém.

Sem saber que seria a última vez, se despediram combinando a hora de se encontrar para jantar.

Simpatizava gratuitamente com ele, até ver suas atividades nas redes sociais.

A carta que eles enviaram durante a viagem chegou somente depois da notícia.

Vestiu sua roupa preferida e arrumou o cabelo para ficar revolto nos lugares certos. O perfume, a pele macia e cheirosa, tudo pronto para o toque que nunca iria acontecer.

No caminho lembrou de tudo que já tinha feito. Mas só quando lembrou dos livros na cabeceira da cama que resolveu voltar.

A sombra da última árvore era disputada por todos, inclusive pelos que causaram a destruição de tudo.