COLUNA

Lideranças que Emergem

As lideranças transformadoras que fazem a diferença no território não estão sempre nos palcos principais

Aumenta para 182 o número de mortes no Rio Grande do Sul provocadas pelas enchentes
Foto: Maurício Tonetto/Secom

Às vezes precisamos ir longe para descobrir o que está perto. Foi isso que aconteceu comigo no São Paulo, quando conheci a Gabriella Bordasch, uma das criadoras do movimento “Vamo que Vamo RS”. Como é curioso: saímos do nosso estado para conhecer pessoas maravilhosas com projetos transformadores que, muitas vezes, estão bem ao nosso lado.
Rio Grande do Sul.

Gabriella é jornalista, empreendedora e uma das lideranças que emergiram durante a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul. Seu movimento conectou quem podia ajudar com quem foi afetado, mobilizando mais de 1 milhão de doadores em uma das maiores campanhas solidárias já vistas no país. Mas nossa conversa foi além dos números e abordou algo mais profundo: como crises extremas revelam lideranças que sempre estiveram lá, esperando o momento de emergir.

“Muitas vezes a gente fica passivo com relação às questões da nossa cidade, do nosso estado. A gente quer que o governante vá lá e faça alguma coisa, mas a gente não faz nada para melhorar”, disse Gabriella. A frase incomoda porque é verdadeira. Quantas vezes esperamos que alguém resolva problemas que também são nossos? Quantas vezes cruzamos os braços esperando que a solução venha de cima, de fora, de qualquer lugar que não seja de dentro de nós?

Gabriella desmistifica a narrativa do “povo pelo povo” que tanto se falou durante as enchentes: “Não era só o povo. Foi uma coisa tão grande que a gente precisou do povo, do governo… Quando o governo é o cruzeiro andando devagar para levar ajuda, o povo era o bote.” A metáfora é perfeita: cruzeiros são grandes, estruturados, mas lentos, enquanto botes são ágeis, chegam onde cruzeiros não conseguem e salvam vidas enquanto a estrutura maior se organiza. Precisamos dos dois, mas em emergências, a velocidade salva.

“Todos nós somos líderes“, concluiu Gabriella. E aí está o ponto central: liderança não é cargo, é atitude, não é posição, é ação. Durante nossa conversa, comentei que muitos funcionários da Defesa Civil perderam tudo nas enchentes, mas no dia seguinte estavam lá, “batendo ponto para trabalhar”. Essa é liderança cidadã: quando o dever com o coletivo supera a dor individual.

Resiliência Coletiva e o Papel do Cidadão

As enchentes do Rio Grande do Sul foram uma tragédia ambiental e humana, mas também foram uma aula prática de resiliência coletiva. Mostraram que quando paramos de nos importar com espectro político e focamos no que é humano, o impossível vira possível. “Se a gente conseguisse continuar com essa energia no nosso dia a dia, de cuidado com o que é nosso, de comunidade mesmo, o mundo seria um lugar mais fácil de viver”, refletiu Gabriella.

Qual é o meu papel? Essa é a pergunta que Gabriella me fez refletir e que agora deixo para vocês, não só nas tragédias, mas no cotidiano, nas questões ambientais, climáticas e sociais que nos cercam. Qual é o meu papel enquanto cidadão? O que eu posso fazer? Até onde eu posso ir?

Ações e Lições de Lideranças Transformadoras

Saí do evento em São Paulo com uma certeza: as lideranças transformadoras que fazem a diferença no território não estão sempre nos palcos principais. Estão nas iniciativas que conectam pessoas, nos movimentos que nascem da necessidade, na coragem de agir quando é mais fácil esperar. Gabriella e o “Vamo que Vamo RS” nos ensinaram que ser resiliente não é apenas resistir às tempestades, mas aprender a navegar nelas e ainda conseguir salvar outros náufragos pelo caminho.

Às vezes precisamos sair do estado para descobrir que as soluções que procuramos lá fora já estão sendo construídas aqui dentro, por pessoas como nós, que um dia decidiram parar de esperar e começar a fazer.

E você? Qual é o seu “Vamo que Vamo”?