A tendência de juros mais altos por mais tempo desenhada no mês anterior seguiu em maio. O fluxo de capital continua direcionado para os títulos do governo americano e para empresas de tecnologia, especialmente a Nvidia. O Brasil amarga o pior desempenho entre as principais bolsas. A tensão subiu depois da decisão dividida sobre a política monetária do Banco Central brasileiro.
Resumo do Mercado:
O Ibovespa recua em 14,7% em dólar no ano, enquanto o desempenho da bolsa americana é de alta de 10,64% ao final de maio.
Cenário Macro
As incertezas sobre o início de corte da taxa de juros americana conduziram o humor do mercado no mês. Os dados divulgados vieram com indicações mistas. Enquanto o consumo das famílias (PCE) e vendas no varejo mostraram desaceleração na margem, o PMI sugeriu uma retomada do crescimento, assim como o mercado de trabalho que segue aquecido.
No geral, as falas dos membros do FOMC indicaram que os dados do mês ajudaram a trazer alívio para as perspectivas de inflação. Apesar das próximas decisões dependerem dos dados que serão divulgados, o risco de termos um novo ciclo de alta da taxa de juros esvaziou-se. Por isso, no geral o mercado espera dois cortes de juros no ano.
Ásia e Europa
O PMI da Zona do Euro mostrou melhora nos últimos nove meses. Somando-se a isso, a inflação arrefeceu, por isso, o Banco Central Europeu cortou a taxa de juro conforme havia sinalizado ao longo do mês.
Por sua vez, a China segue mostrando sinais diversos na economia. Ainda pesa o setor imobiliário abalado. Todavia, a produção industrial e o varejo parecem ter superado o pior momento. O governo chinês também instruiu os governos locais a comprarem estoque de casas entre outras medidas para impulsionarem a economia e fazer com que a meta de crescimento seja atingida.
Brasil
Entre os principais mercados, o Brasil amarga a pior performance do ano. A bolsa cai em dólar 14,7%. Os juros reais estão acima de 6%. Uma série de fatores vêm jogando água no chopp do investidor local e explicam o desempenho negativo. A decisão dividida sobre o corte de juros do Banco Central foi apenas um ingrediente a mais.
A falta de confiança na responsabilidade fiscal do governo desencorou as expectativas de inflação como pôde ser visto no Boletim Focus. Assim, a taxa Selic esperada para o final do ano saltou para 10,25% dos 9% iniciais.
O cenário externo também fez preço. Com a incorporação total do movimento dos juros americanos, o investidor estrangeiro retirou R$34 bilhões da bolsa brasileira. Já os fundos locais estão com uma alocação de 8,7% em bolsa, próximo ao menor nível registrado em 2016 quando o país vivia sua pior crise econômica. Apesar disso, os lucros das empresas listadas subiram em média 21% no 1T24 excluindo Petrobrás e Vale, segundo levantamento do BTG.
Conclusão e comentários
A Nvidia tem sustentado o S&P500, porque seus resultados vêm surpreendendo o mercado. Aventa-se até que pode ser uma bolha, mas o fato que as empresas ligadas à inteligência artificial continuam ditando o ritmo do mercado americano. Os investidores aguardam a sinalização do Fed para calibrarem suas estimativas de cortes de juros.
O Brasil, por sua vez, viu o mercado doméstico derreter e as taxas de juros subirem. Com o aumento esperado no lucro das empresas e a queda dos preços, analistas afirmam que as ações brasileiras estão ficando baratas demais novamente. Todavia, a grande maioria concorda que é preciso um fato novo para inverter o fluxo. Existem, portanto, duas possibilidades, o governo brasileiro ajusta as contas cortando gastos ou as taxas americanas começam a cair e aliviam as pressões sobre os juros globais.
Em termos quantitativos, segundo o BTG, as ações brasileiras (ex-Petro&Vale) negociam a 8,9x P/L e o prêmio para ter ações (inverso do P/L menos as taxas reais de 10 anos) é de 5,2%. Ambos dados estariam no segundo desvio-padrão da média histórica. Indicando assim que as ações estão baratas. Oportunidades não faltam tanto na renda fixa quanto na renda variável, porém o investidor deve ter paciência para aproveitar da volatidade atual para montar boas posições de alocação.