Janeiro, um mês de ressaca, mas com cenário ainda positivo

O primeiro mês do ano foi de correção no mercado brasileiro. Enquanto isso, lá fora a bolsa americana fez máxima histórica e a China gerou preocupação nos mercados globais, pois os problemas no setor imobiliário contribuíram para a queda das ações chinesas. O destaque foi novamente para as ações ligadas à inteligência artificial.

Resumo do Mercado:

O melhor desempenho de janeiro foi do S&P500, alta de 1,30%. O índice de Small Cap e Ibovespa tiveram correção no mês e amargaram os piores desempenhos. Na tabela abaixo estão os desempenhos dos principais índices:

Cenário Macro

O PIB americano, o consumo das famílias e o payroll sepultaram as chances de corte de juros nos Estados Unidos da América em março. Os números vieram acima do esperado e o mercado rapidamente começou a se reposicionar revertendo o fluxo para os emergentes e fazendo com que a curva de juros abrisse.

A forte resiliência da economia americana sustentada pelo consumo das famílias e um mercado de trabalho robusto reforçam a tese de pouso suave “soft landing”. Alguns analistas falam em “no landing” que marcaria uma passagem por um ciclo de alta de juros sem uma redução significativa na atividade econômica.

Não restam dúvidas que em meados de 2024 o Federal Reserve começará um ciclo de queda de juros. No entanto, vale o alerta que o New York Bancorp provisionou 552 milhões de dólares de perdas nos seu portifólio de financiamentos caindo mais de 40% em um único dia.

Ásia e Europa

Apesar da Zona do Euro ter tecnicamente evitado uma recessão, isso não significa que as coisas andam melhores por lá. Não obstante, os investidores também esperam a redução das taxas na Zona do Euro neste ano.

Enquanto isso, o setor imobiliário chinês registrou queda de 7,2% na área construída. As vendas do varejo também ficaram abaixo do esperado e o destaque positivo foi o setor de manufatura. A noção de uma economia chinesa ainda fraca fez com que o mercado acionário chinês caísse no início do ano forçando o regulador do país a proibir vendas de ações para frear as quedas. Movimento similar foi visto em 2015 como tentativa de conter tendências baixistas no mercado chinês.

Brasil

A ressaca no mercado brasileiro trouxe uma queda de 4,8% em reais e 6,3% em dólar no mês no Ibovespa. A inflação traz para o início de 2024 uma expectativa de controle inflacionário. Segundo uma pesquisa do BTG, 30% dos analistas entrevistados esperam que a inflação em 2024 fique entre 3,5 e 3,75%, ou seja, dentro da meta do Banco Central.

Inflação controlada, significa caminho aberto para queda da Selic. O Boletim Focus do Banco Central já projeta a taxa de juros básica da economia em 8,5% ao ano em 2025. Uma Selic menor deve impactar positivamente os lucros das empresas.

Dito isso, é importante destacar também o superávit da balança comercial. Em 2023 tivemos um recorde de US$ 93 bilhões de dólares. Isto ajudou a fortalecer o real e manter o dólar abaixo de R$5,00.

O risco fiscal permanece, embora nenhum agente de mercado projete déficit zero. Espera-se que a meta fiscal seja alterada para déficit de 0,5% e o ajuste já está no preço.

Pois bem, o cenário do ano parece bem definido. Os Estados Unidos iniciarão em algum momento do ano a queda de juros. Este movimento deve alimentar o apetite de risco dos investidores e intensificar a busca por maiores retornos em mercados emergentes. Neste cenário, o Brasil é um caminho certo, pois estamos com as ações mais baratas do que nossos pares. Obviamente, a fraqueza que a economia chinesa vem mostrando contribui para esse fluxo para economia brasileira.

Por outro lado, temos o ciclo avançado de queda da Selic que também ajuda na valorização dos ativos de risco. Mas nem tudo são flores. Nos últimos dias houve uma deterioração da relação entre PT e Congresso, o que pode dificultar o avanço adequado das reformas. Somamos o risco fiscal que mesmo precificado pode agitar o mercado caso a mudança da meta seja maior do que a precificada e temos expectativa de fortes emoções ao longo do ano.