Economia
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Na busca por um título que pudesse ilustrar de maneira objetiva o ano de 2024 para a economia e mercado financeiro brasileiro, encontrei referência no trabalho de Nassim Taleb. O autor em seu livro ‘Iludidos pelo Acaso’ faz a distinção entre sucesso e competência. Em poucas palavras, ele descreve que um evento aleatório pode acabar por disfarçar a sorte de um indivíduo e, por uma análise simplista, ser atribuído a ele erroneamente competência nas suas atividades.

O ano de 2024 começou ao som de violinos. As ações brasileiras vibravam nas alturas, o dólar calmamente situado abaixo de 5 reais e a taxa Selic desenhava um caminho dócil a 9,5% no final do ano. Apesar da resistência em achar que o Brasil decolaria, o cenário estava tão otimista que fiz um texto descrevendo as razões que 2024 poderia ser o ano das ações. De fato, o ambiente e os prognósticos eram favoráveis.

Mas quando Fernando Haddad anunciou a mudança da meta fiscal, o otimismo provou ter um prazo de validade curto. Os investidores logo começaram a reavaliar suas previsões. O dólar começou sua escalada. A bolsa começou sua derrocada. É verdade que em agosto tivemos a máxima histórica no mercado de ações brasileiro renovada, mas não durou muito (outro acontecimento aleatório). Em setembro, o risco fiscal tomou conta do noticiário.  Desta forma, ficou claro que o rumo fiscal que o país estava tomando não o levaria para a prosperidade.

No contexto das contas públicas, as sucessivas protelações e o desastroso anúncio do pacote fiscal fizeram a competência outrora dada ao presidente e ao ministro da Fazenda ruir. Assim, a credibilidade do governo diante dos agentes de mercado desapareceu. Diferentemente dos anos 2000 não vivemos um boom de commodities, os ventos não estão soprando em favor do Brasil. Por isso, a cortina de fumaça dissipou-se e ficou claro que no final de 2023, o governo se beneficiara dos acertos da gestão anterior enquanto as suas próprias políticas tiveram impacto apenas em 2024 quando, então, vimos um déficit recorde, o preço dos alimentos subir, a retomada do ciclo de alta da Selic e a alta do dólar.

Tanto no cenário fiscal quanto econômico, neste momento, vivemos algo muito mais parecido com os primeiros anos do governo Dilma. Por entender os riscos embutidos em uma política que prioriza os gastos e se despreocupa com o equilíbrio fiscal os investidores e analistas ficaram temorosos. É assim que entramos em 2025.

Pois bem, os brasileiros foram iludidos pelo acaso no início do milênio. Os brasileiros foram iludidos pelo acaso ao final de 2023. Agora com a retomada da equipe e das políticas adotadas no governo que fora expelido do comando do país em 2016 trouxe no fim das contas perspectivas negativas para a economia brasileira. Podemos cravar que estamos sendo iludidos pelo descaso.