Opinião

Futebol, vírus e Justiça

Futebol, vírus e Justiça

Obviamente não estarei sendo muito criativo ao dizer que o futebol é uma reprodução em escala reduzida das mazelas e vitórias da vida. Cada clube representa uma nação. Não à toa se fala em nação rubro negra, nação colorada ou tricolor. Uma partida é uma batalha, um campeonato uma guerra. Sem falar que o poderio econômico se impões: dinheiro e organização fazem os times irem ao olimpo ou cair para a segunda divisão.

Pois, num país dividido pela política, por pensamentos ideológicos, por negacionistas e defensores da ciência, por quem defende boicote à Globo e quem não quer perder a reprise de uma novela, nada mais previsível portanto que também os reflexos do coronavírus e chegassem ao futebol. Entre sábado e domingo às 16 horas o assunto não era outro senão o embate no campo jurídico sobre a permissão ou não da realização da partida entre Palmeiras e Flamengo. O Jogo após liminares e recursos em esferas diversas acabou sendo realizado -bom jogo, aliás, ao contrários do deprimentes espetáculos que a dupla grenal vem apresentando.

Num país em que as cifras da primeira divisão vivida, nada do futebol fogem à realidade socioeconômica vivida, nada mais natural do que este embate q em que o time mais milionário tenta melar a partida por estar com 19 jogadores contaminados. É lógico que a secada contra o Flamengo foi grande, afinal é o time que propõe a abertura de portões do estádio num dia para pedir adiamento de jogo no dia seguinte, tudo de acordo seus melhores interesses.

Pois o debate vem em boa hora. Na Europa os países enfrentam uma segunda onda de contaminação enquanto no Brasil ainda não se achatou a primeira onda e alguns estados já demonstram movimentos de retomada das contaminações.

A primavera pede sol, praça, encontros, celebração à vida. É natural que depois de tanto tempo de exceção e diante de um inimigo invisível as pessoas queiram abraço e conversa e até retornar a um estádio de futebol. As autoridades políticas entendem estes anseios, mas precisam respeitar o que diz a ciência, mesmo que não haja consciência. Ainda vivemos tempos diferentes em que o termo “normal” ganhou novas dimensões.

Futebol, por enquanto, na TV. Confraternização, apenas em pequenos grupos e com cuidados redobrados. Muita calma nesta hora. Este momento vai passar, o que infelizmente teremos que conviver por um bom tempo é com estes jogos de poder, no futebol, no judiciário, na vida.