Fé na vida

Hoje experimentei aquela sensação que se pode definir como o meu pleno direito à cidadania. Levantei com a manhã bloqueada para um único objetivo: receber a primeira dose da vacina contra o Coronavírus. Porque é disso que se trata, em tempos sombrios e de muitas dúvidas, não pode pairar qualquer titubeio: a vacina é a porta de entrada para um futuro melhor e até o Governo Federal acabou precisando aceitar isto depois de muito relutar.

Uso deste espaço para fazer coro àqueles que elogiaram o sistema de vacinação criado aqui em Bento. Peguei fila na frente do Simmme e sai vacinado 35 minutos depois. Quem chegou quando eu saí não deve ter permanecido mais do que 15 minutos e isto foi às 9h15min. Todos muito solícitos e tudo muito organizado.

Como nos ensina a literatura a partir de dados científicos, a terra é um lugar inóspito e a luta pela vida é algo primordial. É intrínseco ao ser vivo – não apenas os humanos – buscar a perpetuação da espécie e lutar pela sobrevivência. Num passado remoto precisamos sair da água, enfrentar gases tóxicos na superfície terrestre e evoluir até o estágio que nos permite enviar um drone para Marte. Lutamos guerras cruentas, enfrentamos fome, secas, frios intensos e sobrevivemos.

Eis que num esforço financeiro e numa dobra à ideologia negacionista, governos estão propiciando na velocidade possível que sejamos imunizados. Então sim, ir se vacinar é a um só tempo um ato de autopreservação, de solidariedade com o próximo e de cidadania.

Portanto, não há desconfiança ou temor que possam se sobrepor. Não tem desculpa pra não tomar a picada no braço e o maior exemplo de tudo isto que falei até agora vem de cima, dos idosos com mais de 90 anos. Eles, mesmo sabendo que ainda lhes resta poucos anos, foram com entusiasmo em busca de vida saudável. Logo, não há porque os mais novos desprezarem a oportunidade. A lição que resta é bem esta: sofremos dores atrozes no corpo e na alma. É febre, reumatismo, enxaqueca; é traição, decepção e frustração. Mesmo assim queremos a alegria de um gol, de uma boa refeição, do abraço do pai ou do filho ou do calor na cama depois de um dia frio.

A vacina não significa redenção total, mas é um degrau importante. Temos premências ainda e o sistema tão controverso de bandeiras e travas que emperram a educação, o livre direito ao trabalho com reflexos muito ruins na economia. São situações com saídas que só poderemos vislumbrar depois da imunização. E, se a segunda dose está um pouco atrasada, tenhamos calma, fé e continuemos com os procedimentos profiláticos. A vida vale a pena e nem só os otimistas pensam assim.