
Mais uma vez, o Rio Grande do Sul vive aquilo que a ciência já anunciava há décadas — e que nós, especialmente quem é meu aluno, repetimos tantas vezes ao longo dos últimos anos: eventos climáticos extremos mais frequentes, mais intensos e cada vez mais próximos da nossa rotina.
Osório alagada. Flores da Cunha enfrentando rajadas intensas, possivelmente até um ciclone. O litoral inteiro sob alerta de ventos de 100 km/h.
Nada disso é mais exceção — é tendência. E dói admitir isso.
O impacto do trauma climático
Sim, porque quando falamos sobre clima, não falamos apenas de gráficos, projeções ou relatórios internacionais. Falamos de memórias, medos e cicatrizes abertas por 2024. Falamos do coração que aperta toda vez que o celular vibra com um aviso de chuva forte. Falamos do trauma coletivo que permanece — mesmo quando a chuva não chega a causar grandes danos.
Ontem mesmo, ao perder o acesso às câmeras do Rio das Antas, meu primeiro pensamento foi: “Será que deslizou?” A chuva mal tinha começado, mas dentro da gente mora uma vigilância constante. E isso diz muito sobre nós, sobre o tempo que vivemos, e sobre como estamos reagindo a esse novo clima.
Responsabilidade compartilhada
Mas aqui existe um ponto central — e talvez o mais difícil de aceitar: O clima mudou. Nós é que ainda não mudamos o suficiente.
Podemos (e devemos) cobrar infraestrutura, planejamento urbano, obras amplas, governança pública. Mas não podemos delegar toda a responsabilidade como se o problema estivesse sempre do lado de fora.