
A disputa entre Estados Unidos da América e China me trouxe lembranças dos filmes do Rambo, especialmente do Rambo II. Acho que deve ser a tensão entre governo americano, um lobo solitário e soviéticos. Atualmente, mesmo sem as bombas, explosões e tiroteios intensos – esperamos que continue assim –, as fortes emoções da disputa entre as duas maiores economias do planeta vêm tirando o fôlego e o sono de muitas pessoas.
Desde a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, o país obteve a validação do Ocidente para avançar seu plano econômico de hegemonia. Assim, como um tigre que avança sobre a presa, conquistou diversos mercados. A precariedade da infraestrutura transformou-se em impulso para o crescimento. A ascensão chinesa arremessou o país ao posto de maior consumidor global de commodities até se tornar a segunda maior economia do mundo.
O modelo econômico chinês é uma simbiose entre Estado e iniciativa privada, apelidado por alguns de economia de estado. Este modelo permitiu que a economia chinesa tivesse um vigoroso crescimento.
Os produtos com baixíssimo custo inundaram os mercados do planeta. As empresas foram atraídas pela mão-de-obra barata e pela redução de custos. Os chineses aprenderam a produzir, a investir e começaram a avançar com suas próprias empresas.
A China exportou deflação para o mundo por anos. O mercado americano foi um dos grandes beneficiados neste quesito, porém os EUA viram sua indústria e empregos atravessarem o Pacífico levando consigo containers e containers de dólares. Enquanto o chinês envolto no sistema local trabalhava doze horas por dia sem direito a descanso e feriados por míseros dólares, o americano da classe média com uma hipoteca a quitar deparava-se com a falta de indústrias, falta de empregos, mas com o benefício de comprar Iphones baratos.
Raramente vê-se choque entre dois grandes navios. Quando algo assim acontece, o mundo pára para ver. Parece-me que estamos diante de um destes momentos. A dependência americana aos produtos chineses cresceu a tal ponto que não mais apenas questões econômicas são relevantes.
O clímax da guerra comercial foi atingido no início deste mês de abril quando Trump apontou suas armas e aumentou as tarifas sobre seus parceiros comerciais. Tão logo atingido, Xi Jinping saiu da trincheira protagonizando sucessivas retaliações entre os dois países, um verdadeiro tiroteio ao grande estilo dos filmes do Rambo.
Contudo, as balas, ou melhor as tarifas, atingiram os mercados financeiros e todo comércio internacional como não se via desde o início da globalização. Em última análise, podemos dizer que estamos diante do confronto entre Adam Smith e Karl Marx, mas que pode terminar em tragédia econômica como em 1930.