Opinião

É de tirar o sono

É de tirar o sono

O trânsito no Brasil é a Chechênia sem tanques. Nossos blindados são os próprios carros que dirigimos sem medida – só as de lei, que nem sempre respeitamos.

O que aconteceu em Porto Alegre neste domingo, quando uma discussão de trânsito resultou na morte, por tiros, de três membros da mesma família é inominável. Foram executados, por alguém que francamente deve ser um psicopata, pai, mãe e filho de 21 anos. Restou vivo apenas o filho mais novo, de oito anos. O crime ainda foi presenciado pela mãe do algoz e pela namorada do jovem assassinado.

São duas famílias arruinadas por um ato de descontrole absoluto. E há quem diga que este criminoso, um rapaz de 25 anos não precisa ser preso logo porque não representa risco à sociedade. Representa sim e é preciso saber como e porque ele portava uma arma de fogo em seu carro.

E aqui fica a pergunta que possivelmente nem criminalistas, nem psiquiatras conseguirão responder com precisão: como alguém arruína a sua vida, de sua família e de uma terceira família por um acesso de fúria e descontrole? Questão de id, ou alter ego?

Não importa. O dano é irreparável, indelével. Crimes assim acontecem vez por outra e se justificam em guerras, onde os instintos primitivos prevalecem por haver uma linha muito tênue entre o que pode ou não pode e a sensação de que não prevalece a justiça, mas a lei do mais forte.

Imaginar que numa sociedade de alta performance a serenidade será permanente é desconhecer o limite da tolerância de cada um, que aliás varia de homem para homem. A cobrança diária por produtividade, por melhores resultados no trabalho e nas finanças, seja do chefe, da companheira(o), da concorrência, amigos e familiares cobra um preço alto. Nunca se vendeu tanta ritalina pra acelerar, rivotril pra acalmar e a roda viva está ligada. Viramos zumbis e perdemos a noção de porque mesmo estamos fazendo tudo isto.

Há vários aspectos a abordar e se dirá que quem está disposto achará uma forma de alcançar seu intento de fazer justiça sumária com as próprias mãos. Além do que, a lei não impedirá delinquentes de andarem armados. Mas, te convido a refletir: será que a vida deste jovem e da sua família assim como das vítimas não estaria seguindo normal nesta segunda-feira se ele não portasse uma arma? Quantos outros desequilibrados estamos estimulando a ter uma arma de fogo em casa com a lei mais branda? Será que o meu e o teu vizinho se portarão com gentileza ou contendo sua fúria se o armarmos?

Agora pensemos adiante. É verdade que ninguém impedirá um bandido de ter armas exatamente por isso, é um fora da lei. Agora vamos armar o cidadão pacato que, num momento de descontrole, poderá matar a família do infeliz que ousar cruzar o seu caminho num mau dia. De tirar o sono, pra dizer o mínimo.