OPINIÃO

Dólar encosta nos R$5,70 e pode disparar uma corrida para dolarizar patrimônio

O ritmo de alta da cotação da moeda americana chama a atenção dos brasileiros. O dólar encostou nos R$5,70.

Dólar encosta nos R$5,70 e pode disparar uma corrida para dolarizar patrimônio

O ritmo de alta da cotação da moeda americana chama a atenção dos brasileiros. O dólar encostou nos R$5,70. Há de se admitir que em partes a valorização da moeda aconteceu globalmente. Pesa sobre o real os problemas fiscais domésticos e, por isso, muitos brasileiros preocupados com a desvalorização da moeda local começam a ensaiar o mesmo movimento visto no final de 2022: a dolarização do patrimônio. O grande temor é que o dólar neste patamar seja tido como barato daqui alguns meses.

Desde meados de abril quando houve o anúncio de mudança da meta fiscal para 2024 e 2025, uma enxurrada de más notícias tomou conta do ambiente econômico brasileiro culminando no início de um novo ciclo de alta da taxa Selic. A despeito de uma economia que crescerá quase 3% neste ano, os brasileiros vêem os preços dos alimentos subindo de forma consistentemente acima do IPCA. Eles sobem 6,27% nos últimos 12 meses considerando dados de setembro. A inflação é a consequência econômica natural do descalabro das contas públicas.

O governo segue gastando mais do que arrecada e, por isso, vê-se o aumento tanto da dívida quanto das expectativas de inflação do país. Surpreendente não é a posição do partido, mas dos agentes de mercado que acreditaram em palavras bonitas e promessas sem avaliar corretamente as ações.

O histórico do partido de Lula remete a um crescimento constante nos gastos, muitas vezes acima daquele visto nas receitas. Essa política econômica sustentada pelo boom das commodities no início dos anos 2000. No entanto, após a crise de 2008, a política fiscal expansionista acabou por jogar o país no pior declínio econômico da sua história sob o governo de sua afilhada política Dilma. Na época, o câmbio saiu de R$2,20 para R$4,00 entre 2014 e 2016.

O brasileiro, que entende minimamente a relação entre juro doméstico e internacional, acharia normal que com o aumento da taxa Selic no Brasil e redução do juro nos países desenvolvidos veríamos uma entrada forte de fluxo estrangeiro favorecendo o fortalecimento do real. Porém, o descompasso entre falas do presidente e figuras da área econômica do governo têm impactado negativamente a perspectiva sobre o futuro do país e, assim, pressionado a cotação da moeda estrangeira. Um dólar mais alto significa sobretudo que a economia do Brasil pode não seguir o caminho do sucesso petista.

A consequência não poderia ser outra: juros futuros e dólar para cima. O primeiro impacta diretamente a propensão dos empresários de investir. O segundo pode aumentar a pressão sobre a inflação do país no médio prazo. Juros em um patamar de 13% e dólar cotado a R$5,70 não são bons indicativos de um caminho de crescimento.

Não bastando os problemas fiscais, as falas do presidente têm aumentado a tensão no mercado. Recentemente, em uma entrevista para uma rádio ele citou a possibilidade de aumentar a faixa de isenção de imposto de renda e criar um imposto sobre os milionários para compensar a perda fiscal. Soma-se a isso boatos que as estatais seriam mais uma rúbrica retirada do arcabouço fiscal depois de apresentarem um prejuízo histórico em 2024. Assim, forma-se o ambiente perfeito para que nem juros nem dólar parem por aí.

A escuridão do túnel que os brasileiros trafegam parece não ter fim. Desta forma, muitos começaram a ensaiar um movimento de dolarização do patrimônio em busca de proteção do poder de compra e fuga de novos impostos. Por sorte, atualmente abrir uma conta internacional em dólar ficou bem mais fácil e acessível para os brasileiros. A fuga de capital, obviamente não ajuda o país, porque o dinheiro que criaria empregos e renda para nação é direcionado para outro lugar.

Diante do rombo fiscal pior do que na época da pandemia, o ambiente que se desenha não é animador. Por isso, o governo não tem alternativa a não ser cortar gastos. Enquanto isso, uma solução possível para o brasileiro é dolarizar o patrimônio em busca de proteção.