OPINIÃO

Da Tempestade à Ação: Construindo Futuros Possíveis

Não se trata mais apenas de pensar no legado para o futuro, mas no que desejamos que ainda exista.

Km 189 da BR-470 / Foto por Taísa Trevisan
Km 189 da BR-470 / Foto por Taísa Trevisan

Há exatamente um ano, o estado do Rio Grande do Sul enfrentava sua maior tragédia climática, impactando muitos de nós diretamente e, de alguma forma, a todos indiretamente. Foi impossível não se envolver ou se comover. 

No entanto, os problemas começaram ainda em setembro de 2023, intensificando-se em novembro daquele mesmo ano. Nessa época, eu estava na Serra das Antas, às onze horas da noite, enfrentando deslizamentos e chuvas intensas, enquanto liderava um curso com participantes de diversas cidades. Precisamos realocar todos, pois não havia como atravessar a serra. 

Os alertas sobre o aumento da intensidade das chuvas eram frequentes, e os estudos já indicavam que o Rio Grande do Sul seria um dos estados mais afetados pelas mudanças climáticas. Após os acontecimentos de novembro, procurei algumas lideranças públicas para propor um evento sobre resiliência nas cidades. Contudo, havia uma percepção de que o vivido entre setembro e novembro já representava o pior cenário possível em termos de desastres ambientais. Não consegui demonstrar, naquele momento, a urgência e a importância desse tema. 

Então veio o 1º de maio de 2024. Ainda me recordo perfeitamente: na véspera do feriado, estava pronta para viajar para Veranópolis com meu filho de 5 anos, mas, devido à forte chuva, optei por adiar a viagem para a manhã seguinte, o que acabou não acontecendo. Naquela manhã, enquanto tomava café, recebi uma ligação da minha mãe, que vive na Serra do Rio das Antas, no KM 189 da BR-470, relatando que tudo estava desmoronando. 

Foto por Taísa Trevisan

Naquele instante, me fiz uma pergunta fundamental: “O que eu estou fazendo com o conhecimento que tenho na área ambiental?”. 

Percebi que não estava contribuindo o suficiente com a comunidade da qual faço parte. 

O mês de maio parecia interminável. Foi então que comecei a refletir sobre como poderia ajudar minha região e o Estado. Admiro muito quem esteve na linha de frente como voluntário, mas eu não tinha condições emocionais para atuar diretamente na triagem de doações ou na distribuição de alimentos. Por isso, decidi contribuir da melhor forma que eu podia: mobilizando minhas redes e organizando uma conferência sobre o tema. 

Assim surgiu o Conexão8 – Economia Circular e Cidades Resilientes. Mais do que uma simples conferência, o Conexão8 é um espaço dedicado ao compartilhamento de conhecimento, ao acompanhamento das ações públicas em andamento e à participação ativa na transformação que desejamos ver. Na sua primeira edição, contou com uma carta de intenções e, em 2025, integrou a programação da Fiema Brasil. O projeto reúne pessoas e setores diversos, unidos pelo propósito de construir soluções inovadoras para cidades mais humanas, criativas, resilientes e inteligentes. 

Na edição de 2025, o Conexão8 tem como objetivo criar uma rede de líderes visionários, integrando inovação, sustentabilidade e colaboração para regenerar territórios e estimular transformações positivas. 

O evento vai além de palestras e debates: funciona como uma plataforma integrada de conhecimento, encontros, inovação e parcerias estratégicas. Envolvemos estudantes, pesquisadores, inventores, empresários, representantes do turismo, gestores públicos e a população em experiências colaborativas.

Em 2025, o evento contará com três painéis principais: Políticas Públicas – Iniciativas Governamentais e Inovação Pública, Ciência, Tecnologia e Inovação, Impactos Sociais e Econômicos das Catástrofes. 

Esses temas reforçam o compromisso do Conexão8 com a regeneração dos territórios e com um futuro sustentável, alicerçado no conhecimento, na cultura e na tecnologia. 

Como reflexão final, percebo que, passado um ano, já não vejo o mesmo engajamento do poder público e de empresários que antes se mobilizaram. A resiliência climática é um tema que diz respeito a todos, pois vivemos nas cidades, nossas empresas estão nelas, e todos sofreremos, direta ou indiretamente, os impactos sociais e econômicos das catástrofes. Não podemos deixar que esses acontecimentos caiam no esquecimento, pois tendemos a retomar nossas rotina, até que tudo ocorra novamente. 

Não se trata mais apenas de pensar no legado para o futuro, mas no que desejamos que ainda exista. Precisamos fazer melhor. E, antes de tudo, colocar as pessoas no centro — pessoas dispostas a protagonizar as mudanças necessárias, a transitar entre o ser e o fazer, e a enxergar tudo o que atravessa e molda o futuro. 

E você? Já se perguntou se temos um futuro possível? 

Eu acredito em futuros possíveis. Futuros construídos pela harmonia entre pessoas e negócios, por vínculos que geram valor coletivo para todos. Acredito que existem muitas formas de contribuir, mas não podemos esquecer de continuar atuando. Você pode ajudar cobrando efetividade das autoridades, participando de eventos e debates, ou se engajando em iniciativas por cidades mais resilientes. O importante é não desistir de fazer parte da transformação.