No coração de uma terra consagrada pela uva e pelo vinho, há um resto que quase ninguém nota: o bagaço. Para muitos, ele é visto apenas como sobra, descarte das vinícolas, vestígio de uma produção do setor vitivinícola. Mas toda transformação começa com um novo olhar.
Foi assim para um grupo de nove estudantes do curso de Tecnólogo em Processos Gerenciais do Instituto Federal – Campus Farroupilha. Desafiados a unir inovação e sustentabilidade em seu Trabalho de Conclusão de Curso, eles aceitaram a instigante provocação: “Encontrem riqueza onde o mundo vê desperdício”.
A escolha do bagaço de uva não foi aleatória – veio como um chamado para aqueles atentos ao marginal, ao invisível. Em meio ao cotidiano recheado de bagaço, eles se perguntaram: por que aceitar que um material tão abundante fosse apenas lixo? Não seria justamente ali, nesse excesso ignorado, que morava uma oportunidade?
Juntos, entre conversas, pesquisas e muitos testes, nasceu a VITIS, uma cerâmica fria sustentável feita a partir do bagaço de uva. Eles não precisaram de máquinas sofisticadas nem fornos industriais; bastaram o tempo, o ar e a criatividade para transformar o resíduo em massa moldável, de toque agradável e aroma que remete à natureza. O resultado prático foi uma resposta concreta a um problema ambiental: uma alternativa capaz de entregar bem-estar e estimular a criatividade, além de gerar renda e envolver a comunidade.
Nas feiras locais, ao apresentar a VITIS, os estudantes viram nos olhos das pessoas o espanto que só a inovação proporciona. Descobriram que resíduos podem, sim, se tornar arte e mais do que isso: podem originar novas histórias, conexões e propósitos. Ali, foram mais que vendedores; tornaram-se fonte de inspiração para aqueles que sugeriram ideias, comentaram, sonharam junto.
Mais do que técnica ou gestão, o grupo aprendeu a importância da sensibilidade, do olhar transformador. Aprenderam e querem inspirar quem lê – a enxergar valor no que antes era invisível. O resíduo é apenas o começo para quem ousa repensar, imaginar e agir.
A Importância do Apoio e da Educação
Nada disso teria sido possível sem o apoio dos professores Oderson Panosso, Tânia Craco e Claudia Soave, que acreditaram que a educação se faz com experimentação, coragem e mãos à obra.
A mensagem que fica é clara: depois dessa jornada, os estudantes perceberam que seu maior produto não foi só a massa de cerâmica fria, mas o despertar de uma nova consciência. As mudanças começam quando se altera a percepção sobre o que não tem valor. O verdadeiro legado deixado aqui é este: inspirar outros a ver matéria-prima nas pequenas coisas, enxergando oportunidades onde muitos só veem descarte.
O grupo é composto por nove alunos comprometidos: Amanda, Anny, Silvana, Mariana, Helena, Luiza, Josieli, Jocelaine e Nicolas. Esse projeto marcou a trajetória acadêmica deles e proporcionou uma vivência para a vida toda.
Experimente olhar ao redor com outros olhos. Afinal, a inovação nasce exatamente onde ninguém mais procura.
E eu acredito que a transformação acontece por pessoas capazes de fazer essa diferença, e principalmente por bons líderes – neste caso, os professores que inspiram e provocam os alunos a pensarem fora da caixa e desenvolverem soluções para problemas reais. Tenho certeza de que estes alunos se tornam seres humanos muito mais conscientes e inspiradores.