“Na natureza, competição é exceção, cooperação é regra”
A biomimética é uma área da ciência que tem por objetivo o estudo das estruturas biológicas e das suas funções, procurando aprender com a Natureza, suas estratégias e soluções, e utilizar esse conhecimento já se faz presente em diferentes áreas da ciência, no design, nos negócios e em muitos outros campos, além de nos indicar que são, os melhores caminhos para o trabalho em clusters de inovação e demais organizações.
A natureza nos mostra que: ‘Uma dose grande de cooperação com alguns momentos de competição, quando necessário, traz excelentes resultados”
A biomimética surgiu para “emprestar” essa inteligência. O estudo procura observar o mundo natural de várias formas a fim de copiar as soluções e aplicá-las em produtos e processos. A biomimética se tornou-se uma ferramenta de inovação, que permite a criação de novos produtos e de serviços eficientes e sustentáveis.
Exemplos de aplicação da biomimética
Nanotecnologia refere-se ao desenho ou criação de objetos em escala atômica ou molecular. Como nós humanos não operamos nessas escalas, frequentemente temos que prestar atenção na natureza para entender melhor como trabalhar com as coisas nesse mundo minúsculo.
Trens de alta velocidade Japoneses, resolveram seus problemas de impacto de explosão provenientes do barulho que ondas atmosféricas produziam na saída de túneis, observando aves, e se inspirou na aerodinâmica do bico do martim-pescador. Ao penetrar a água com velocidade, o pássaro não causa uma onda de impacto, qualidade importante para não assustar a presa. O engenheiro redesenhou a parte dianteira do trem e reduziu significativamente o efeito sonoro.
Redes neurais geralmente referem-se a modelos de computação inspirados nos desenhos das conexões neurais do cérebro. Muitos cientistas da computação têm construído redes neurais para executar operações fundamentais, imitando a ação dos neurônios. A rede é construída pelas conexões entre unidades de processamento, da mesma forma que as conexões neurais no cérebro.
Velcro, esse é um dos mais clássicos exemplos de produto inspirado na natureza. Em 1941, o engenheiro suíço George de Mestral observou a estrutura dos carrapichos, depois de encontrar vários destes presos no pelo do seu cachorro depois de uma caminhada. Ele notou pequenas estruturas, como ganchos, na superfície do carrapicho, que permitia a ele prender-se a outras superfícies. Depois de muita tentativa e erro, Mestral finalmente patenteou o design que se tornou muito popular para fechar sapatos e roupas, baseado na estrutura de gancho e laço o velcro é um exemplo de tecnologia biomimética anterior até mesmo ao termo que designou a ciência.
Mas talvez a forma mais fácil de identificar a biomimética, seja na arquitetura, e no design, sempre inspirado em formas e funções da natureza.
Mas a grande diferença, para um salto na evolução da raça humana, pode estar justamente em observar a biomimética como grande professor na questão da condução dos comportamentos em grupo, em sociedades. Na natureza, ela nos mostra que grupos altruístas e cooperativos superam os grupos egoístas e competitivos
O hoje conhecido experimento com galinhas, realizado por William Muir, gerou polêmica na época de sua divulgação. Ele comparou dois tipos de seleção, de um lado, selecionou os indivíduos com maior produtividade individual e os colocou em gaiolas, e do outro, selecionou, baseado na produtividade do grupo. Após seis gerações, as galinhas, oriundas dos processos de seleção individual, demonstravam características supercompetitivas e agressivas, enquanto as outras mostraram características mais cooperativas e maior equilíbrio, resultado, um aumento na produção de ovos por gaiola de 160% em relação às primeiras. A coesão social venceu o egoísmo.
Os grupos altruístas e cooperativos superam os grupos egoístas e competitivos!
Em 2007, os evolucionistas, David S. Wilson e Edward O. Wilson, quebraram os paradigmas entre os especialistas e colocaram um ponto final nessa polêmica: Visto de dentro do grupo, o egoísmo supera o altruísmo. Visto de fora, os grupos altruístas e cooperativos superam os grupos egoístas e competitivos. O resto é só especulação!
Assim, a longo prazo e adotando uma visão sistêmica, as organizações que conseguem equilibrar competição e cooperação estimulam comportamentos altruístas e cooperativos.
Competição é exceção, cooperação é regra!
Cooperação e competição são os pilares da evolução, mas a segunda acontece apenas em momentos pontuais, porque é muito incerta, desgastante, cansativa e perigosa. Entretanto, possui a virtude de otimizar o uso de recursos escassos, além de se constituir em um incentivo para fazer melhor, para se ultrapassar, para estimular a inovação e procurar soluções fora da caixa.
O fato é que, na natureza, a competição é limitada à hora da reprodução, da partilha, da defesa de territórios e, da alimentação, de certa forma, aleatória, ela é custosa e arriscada, quando se trata de assegurar a vida a longo prazo.
Dois princípios para a existência de vida e inovação!
Cooperação atrai cooperação! Na natureza, observa-se que a vida é resultado de interdependências radicais, onipresentes e frágeis, organizadas em torno da lei da reciprocidade: dar para receber. Do ponto de vista de comportamentos humanos, vários estudos apontam tendências relevantes:
O ambiente cooperativo requer, ao mesmo tempo, segurança, igualdade e justiça, a presença de ameaças ou de um meio hostil pode reforçar fenômenos de cooperação local, com risco de polarização e fechamento em relação ao resto do mundo; instintivamente, o ser humano é cooperativo, quando alguém precisa de socorro ou ajuda; os comportamentos altruístas individuais desencadeiam um círculo virtuoso de cooperação e inovação; em contrapartida, basta uma pessoa trapacear para provocar um afastamento geral e quebrar o frágil ambiente cooperativo. Já em contrapartida, se o primeiro passo, for uma atitude colaborativa desencadeia um ambiente de mesmo nível, ou melhor.
Evoluir ao contato com o outro, a diversidade traz resiliência!
Observamos, na natureza, que a evolução pressupõe o contato com o outro. Em biologia, os fenômenos de associação e simbiose são as maiores fontes de inovação, muito à frente daqueles de competição, e se materializam na forma de superorganismos. Não evoluímos sozinhos, procuramos o outro para crescermos juntos.
A principal premissa para que haja seleção natural e evolução é a diversidade. Em uma perspectiva humana, os lugares onde existe diversidade de pensamento, de culturas e opiniões são também os mais criativos e inovadores, como é o caso da antiga Babilônia, ou do atual Silicon Valley, ambos verdadeiros palcos culturais.
O surgimento da internet ensejou oportunidades de comunicação, interação, colaboração e inovação em escalas globais e sistêmicas nunca antes imaginadas. Com o aparecimento dos conceitos de blockchain, software livre, peer-to-peer, Web 3.0, observamos comunidades com propriedades de auto-organização em rede, que operam de forma decentralizada, com regras compartilhadas, e dispensam os esforços de planificação, coordenação e, consequentemente, uma autoridade central.
Não é de se surpreender que, nas organizações atuais, estratégias de planificação, comando e controle, bons instrumentos de parte da administração moderna, estão abrindo cada vez mais espaço para os propósitos e a cultura organizacional. E esses conceitos tem vindo de forma natural conforme o ser humano se aproxima mais da natureza.