COLUNA

As feiras e a cidade

Muito além dos hortifruti

Imagem: Iotti
Imagem: Iotti

Em muitas cidades, falar em feira lembra pastel, suco feito na hora, frutas e verduras frescas em promoção nas barracas espalhadas ao ar livre, em uma praça ou outro espaço público.

Em vários estados, em especial no Rio Grande do Sul, existe uma tradição muito organizada e consistente sobre feiras. As frutas e verduras estão presentes, assim como a história, os dinossauros e pesquisas espaciais. Tem gnomos e unicórnios. Aliens, ficção científica, terror e romance, tudo misturado. Uma salada de frutas com alho, cebola e muito sabor.

Tem ciência e biografias, histórias em quadrinhos, desenhos e mangás, um cardápio de alimentos diverso e invejável para qualquer mente.

Tem produtos caros, baratos, mais ou menos e a xepa, com aqueles na sobrevida e que fazem a felicidade de muita gente ainda.

Se até agora não adivinhou do que estou falando, a feira nao é de produtos para mastigar com a boca, mas de devorar com os olhos. Sim, as feiras do livro são a cereja do bolo da coluna hoje.

Com um mundo lendo cada vez menos livros, os eventos que, além da escola e da família, incentivam a leitura e sua descoberta sem volta pro mundo livre e sem limites da imaginação, fazem a comida da alma chegar por cada mão que encosta num livro. Ao ler alguns trechos ou orelhas, a gente é contaminado pelo bichinho da goiaba da curiosidade, que passa a viver no fundo da nossa mente e só precisa ser alimentado.

Sou uma fã de feiras do livro, que frequento desde pequena, levada pela minha mãe, depois pela escola, e onde agora vou por prazer e trabalho.

Esse ano já estive em Caxias do Sul, Cotiporã, Casca, Veranópolis e estou a caminho das feiras de Itaara, Carlos Barbosa e Porto Alegre. Lembro de coisas simples e maravilhosas de cada uma delas. Os autores que trocam seus livros e experiências, as crianças curiosas e com perguntas muitas vezes mais originais que as dos adultos, o carinho e entusiasmo, especialmente nas cidades do interior, de receber os participantes.

E não posso esquecer das estrelas: Os livros. Os novos com cheiro de tinta da gráfica ainda, os bonitões e plastificados quase guardados em cofres, os com cheiro de todas as casas e lugares que passaram até chegar nos sebos, e os todo prosa ao lado dos autores nas sessões de autógrafos.

Numa dessas feiras, uma criança de mais ou menos 8 anos fez uma pergunta pro autor que surpreendeu a todos, pela lógica da conclusão após a leitura do livro em sala de aula. Ao ser aplaudido e receber de presente um livro do autor, notei o uniforme bastante surrado, com muitos furos e rasgos. A roupa mostrava uma vida talvez nada privilegiada, mas as palavras mostraram uma mente rica e em expansão.

Esse mundo onde podemos sim conhecer todos os universos numa feira só, sair acompanhado de vários autores e ainda, se tivermos sorte, aproveitar um suco de abacaxi, é um lugar pra ir de coração e emente aberta, e celular desligado.