COLUNA

Arquitetura do pertencimento: como reconhecemos ‘nosso lugar’ nas cidades?

Na Serra Gaúcha, as histórias familiares se entrelaçam com o desenho das cidades

Sala de estar moderna com bar, adega e decoração sofisticada.
Cristina Mioranza/Divulgação

Existem lugares que nos tocam antes mesmo de entendermos o motivo. Esses espaços despertam lembranças de infância, acolhem pelo aroma familiar ou talvez por uma memória. Pode ser o cheiro da cozinha da avó ou o banco da praça onde foi passada a infância. A sensação de fazer parte de um lugar nasce do afeto, e o afeto, da lembrança.

Na Serra Gaúcha, as histórias familiares se entrelaçam com o desenho das cidades. O lugar guarda nossas memórias: a cozinha da avó, o passeio de domingo, a praça onde se aprendeu a pedalar. A arquitetura está presente em tudo isso, ela molda, abriga e acompanha, desde a varanda do quarto até o parque da esquina. Ela é o cenário dos melhores momentos e não se resume apenas à estética, ganha sentido quando cria espaços que dialogam com quem os ocupa. Quando um parque infantil é desenhado com cuidado, promovendo o desenvolvimento motor das crianças com brinquedos criativos, interativos e bem planejados, se cria uma memória desde cedo que, mais tarde, se transforma em vínculo.

Hoje não há mais espaço para ambientes genéricos. É difícil se identificar com um lugar que não reflete a vida de quem o frequenta. Cada pessoa tem um modo próprio de viver a cidade: um banco confortável sob a sombra certa, uma calçada que convida a caminhar, uma praça viva para brincar, conversar ou simplesmente para descansar.

Projetar esses espaços com atenção é tão importante quanto cuidar da infraestrutura. A cidade não se constrói apenas com asfalto e saneamento, mas também com relações humanas. Uma praça mal iluminada, um mobiliário desconfortável ou uma rua esburacada afastam. A cidade ideal é aquela que acolhe, que reconhece cada pessoa como parte integrante do todo. No final, se sentir ligado a um lugar é saber que ele nos vê, nos lembra e nos considera. A arquitetura tem um papel insubstituível nisso, não apenas por meio de monumentos, mas por gestos que aproximam e criam pertencimento.