Opinião

A retomada do ciclo de alta dos juros

A retomada do ciclo de alta dos juros


Desde meados de março, os juros futuros no Brasil seguem uma trajetória de alta. Principalmente, aqueles com vencimentos mais curtos, previstos para 2025 e 2026. Eles indicam um provável aumento na taxa Selic e refletem as preocupações do mercado com um cenário econômico mais desafiador para o país. Além disso, sob a ótica de um especialista, podemos afirmar que os juros futuros traduzem o risco e as incertezas que rondam o futuro econômico brasileiro.

O movimento de subida dos juros futuros é, em partes, explicado pelo aumento das expectativas de inflação. Uma inflação mais alta, usando o termo técnico do Banco Central desancorada, implica em uma taxa Selic acima do patamar atual de 10,5% ao ano. O IPCA de julho acentuou as preocupações após mostrar um acúmulo de alta de 4,50% nos últimos doze meses, ou seja, no limite da banda superior da meta do Banco Central do Brasil. Frente a este cenário, gestores já prevêem uma alta de 0,25% na taxa Selic na reunião de setembro chegando a um aumento de 1% até o final do ano.

Para o brasileiro comum, a escalada dos preços não é uma abstração meramente econômica. É uma realidade econômica percebida quando ele vai a um supermercado, a uma loja ou a uma farmácia. A inflação é perceptível e tangível para quem sente o seu poder de compra esvaíra-se mês após mês.

Pois bem, a equipe econômica sabe que é o volume dos gastos muito além das receitas que tem causado essa inflação, porque o governo precisa emitir dívida para financiar os ditos investimentos feitos em diversas áreas no país. Sem um controle fiscal adequado a dívida brasileira continuará crescendo provavelmente impulsionando a inflação que só poderá ser domada com um juro mais alto. Isto em boa parte explica os juros reais historicamente altos no país.

Para o investidor resta, portanto, estar posicionado para múltiplos cenários. Sejam estes uma alta na inflação, uma alta na taxa Selic ou até uma queda na taxa de juros. De outro lado, para o empresário ficaram com os impostos, para o trabalhador ficou a conta. Para todos, um cenário melhor habita na esperança de que o governo tenha responsabilidade levando a sério o controle de gastos para abrir o caminho rumo a juros mais baixos e um crescimento econômico sustentável. Todavia, como ainda este não é o caso, possivelmente teremos a retomada do ciclo da alta de juros.