Pix
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Como uma chaleira no fogo, o país ferveu nos últimos dias. Os acontecimentos sobre o PIX, podem reacender discussões sobre o futuro do Drex, o real digital, e o controle que os governantes têm e terão sobre o dinheiro dos brasileiros. Assim, avaliar a percepção do brasileiro e os impactos econômicos é crucial para entendermos nosso rumo diante de tamanha repercussão.

Tudo começou com uma normativa burocrática da Receita federal obrigando toda e qualquer instituição de pagamento e cartão de crédito informar dados semestralmente das movimentações mensais que ultrapassassem o somatório de R$ 5.000,00. Rapidamente o assunto teve repercussão e um vídeo em tom crítico do Deputado Federal Nikolas Ferreira atingiu mais de 200 milhões de visualizações nas redes.

Mais rápido ainda foram as manchetes na grande mídia e declarações do governo classificando como fake news. O apoio da imprensa foi inclusive destaque na fala do representante do governo. O governo negou veemente qualquer taxação do pix, assim como fez outrora com o sigilo do cartão corporativo, orçamento secreto e com a taxação das blusinhas.

A canetada foi traduzida como “taxação do pix” e por isso foi classificado como notícias falsa. Entretanto, para uma pessoa com o mínimo domínio da língua portuguesa, o termo seria identificado como uma metonímia. Assim, como uma agulha que penetra a bolha de sabão a figura de linguagem atingiu até o brasileiro humilde no recanto mais isolado do país. Ele foi capaz de entender que o monitoramento do PIX com a justificativa de prevenir os crimes fiscais era mais uma vez a gula dos governantes por arrecadação.

O vendedor de espetinho, o pedreiro, o motorista do uber, a tia da limpeza, o Zé da venda da esquina compreendeu que o ganho do seu trabalho poderia ser taxado em algum momento a partir da nova normativa. Em outras palavras, os mais de 40 milhões de brasileiros que estão na informalidade, segundo dados do Ipea, poderiam começar a ser taxados sobre o que faturam, como se já não pagassem impostos em tudo o que consomem ou não tivessem custos para manter seus negócios.

O impacto na economia brasileira seria devastador, porque os microempresários, sejam eles formais ou informais, são a grande massa que move a economia do país. O povo brasileiro sofreria com o encarecimento de muitos serviços e itens que hoje são frutos destes trabalhadores honestos. Eu apenas não entendi se seriam eles as pessoas inescrupulosas.

De todo modo, a repercussão foi tão grande e nociva que o governo resolveu recuar, porém o estrago está feito. Inclusive afirmando que editaria uma medida provisória para garantir o sigilo das transações por PIX (esperamos que não tenhamos surpresas, ou jabutis, quando a MP for votada no Congresso). Como no dito popular: “malandro não pára, dá um tempo”, muitos brasileiros seguem desconfiados não apenas do quanto o governo pode avançar sobre o povo para aumentar a arrecadação e garantir a farra nos gastos do dinheiro público, mas também de qual seria o nível de controle que o governo teria com o Drex, o real digital. A pergunta que poderíamos fazer é: caso o Drex fosse uma realidade hoje, o que teria feito o governo com o dinheiro e bens daqueles que assistiram, curtiram e comentaram as dezenas de postagens denunciando o monitoramento da Receita Federal sobre os brasileiros?

Se o pix é o gato, que arranha e morde a pele, o Drex é o leão, que estraçalha e devora a presa. Agora sob o comando do indicado de Lula, o Banco Central é o pai do PIX. Talvez muitos brasileiros não tenham visto antes, mas ao criar um link de PIX é possível notar o endereço BR.GOV.BCB, este é o carimbo de que a transação passa por um ponto central, por lá que a autoridade monetária consegue dizer qual foi o valor da maior transação por pix, quantos bilhões são transacionados por mês. Por isso, sabemos que depois da normativa da Receita Federal, nos primeiros dias de janeiro houve uma redução de 10% nas transações via PIX.

O brasileiro parece ter compreendido não somente o que foi feito agora, mas vislumbrou os frutos do terreno arado, adubado e plantado poderia produzir: mais impostos. É cômico essas ações acontecerem no governo no qual boa parte de seus integrantes estiveram envolvidos nos maiores escândalos de corrupções do país. Portanto, poderíamos dizer que o PIX é apenas um ingrediente enquanto o Drex será a substância principal da Receita para controle do seu dinheiro, não o deles.

Nota: acrescento aqui exemplos de metonímia:

A parte pelo todo:

Descobriu que Pedro é um coração amargo e cheio de maldade.

(Descobriu que Pedro é uma pessoa amarga e cheia de maldade.)

O autor pela obra:

Li Machado de Assis, pela primeira vez, aos 15 anos de idade.

(Li um livro de Machado de Assis, pela primeira vez, aos 15 anos de idade.)

O instrumento pelo agente:

Edna é uma volante de primeira categoria.

(Edna é uma motorista de primeira categoria.)