Rainhas e princesas segurando buquês de salsa, com coroas e faixas em evento festivo.
Imagem: Google Gemini

Cada região tem seus hábitos, tradições e comemorações, que às vezes parecem estranhas pra quem não nasceu, cresceu ou vive no lugar.

Morei no vale do Itajaí e lá, dos anos 80 em diante, uma quantidade de feudos e reinos se multiplicou, com destaque para a Oktoberfest, hoje a segunda maior do mundo, consequentemente também o segundo maior produtor de xixi, perdendo pra festa alemã em tamanho e ineditismo, mas com certeza ganhando em confusão e alegria.

Voltando pra cá, conheci parte da Serra Gaúcha depois de adulta, e, desculpe a ignorância, eu não entendia o que era a Festa da Uva e a excitação ao redor da eleição de rainha e corte.

Não quero falar nada (sim, quero), MAS … (indicativo de plot twist e segura aí que vem maldade) à primeira vista tudo me pareceu muito estranho. Seria um movimento de volta da monarquia no Brasil?

Fui pesquisar no google e a primeira coisa que apareceu sobre a festa foi o choque do Lasier Martins, e daí se foi o boi com a extensão e me perdi nos vídeos, memes e remixes do aáaai aáaai mais eletrizante da história.

Depois de horas ouvindo o mix de September, do Earth, Wind & Fire com a participação do nobre senador, minha pesquisa nada científica me levou para um livro sobre os bastidores da escolha, outro sobre o surgimento da festa e um que chamou minha atenção, de suspense, chamado A Rainha Está Morta, de Pedro Guerra, sobre o assassinato da Rainha antes de receber a coroa. Não li o livro mas entendi a extensão do evento no imaginário da cidade.

Numa nota mais triste, notícias de uma princesa que morreu de verdade e uma trágica história da vida depois dos 15 minutos de majestade.

Voltando para minha pesquisa de campo comparativa sem fundamentação alguma, percebi que em nenhum outro reinado a escolha da rainha é tão tradicional, longeva, incensada, vitaminada e fermentada quanto a da Festa da Uva de Caxias do Sul.

Escolha da escolha das candidatas, depois outdoors pela cidade com as candidatas escolhidas representando empresas e clubes de futebol, cobertura extensiva da imprensa nas prévias, uma verdadeira jornada esportiva da vindima real, com bolsa de apostas, torcidas organizadas, suspense para escolha dos jurados, dos trajes, tudo milimetricamente criado para gerar expectativa e visibilidade para a festa.

Pela pesquisa de abordagem pessoal, ou seja, fofocando com amigos, as opiniões se dividem. Tem quem ache a festa uma bobagem e a escolha da rainha uma bobagem ainda maior. Tem quem ame, enfatizando a atenção que a escolha da rainha direciona a festa. Tem meninas que sonham em ser a rainha, tem as mães que sonham que suas filhas sejam rainhas, e tem os que sonham em namorar uma rainha.

Aprofundando a fofoca, digo, pesquisa, comecei a pensar que numa cidade vista como industrial e sem vocação para o turismo (não sou eu dizendo, são minhas fontes) uma festa vem realmente salvar a colheita, na prática, da indústria do entretenimento e hospitalidade.

Em 2026, aquele pequeno reino cercado não por um fosso, torres e muros de pedra, mas por telas e algumas parreiras, chamado Pavilhões da Festa da Uva, vai viver novamente seus dias de glória.

Eu ainda não sei dizer se gosto ou desgosto, mas toda essa pesquisa me deu uma idéia. Vou criar uma festa virtual, que só vai acontecer nas redes sociais e pra gerar treta e polarização.

Pensei em festas que ainda não existem, como a da Carambola ou Beterraba, Baiacu ou Urtiga ou ainda do Xuxu, mas achei tudo insosso e não daria muito engajamento.

Foi quando a lâmpada da discórdia acendeu na minha mente. O que causa mais bate-boca e sentimentos acalorados do que uva passa e política? Ele, claro, a majestade, o senhor de todas as controvérsias, o Coentro!

Se querem discutir se a festa, a escolha da rainha, a cobertura e todo frenesi ao redor tem sentido, vamos fazer isso direito e polemizar sobre a escolha da Rainha da Festa do Coentro. E não vai ter essa de princesa, porque coentro tem que reinar sozinho sempre.

Essa, além da querida Ivangélica, a Rainha dos Metalúrgicos, tem meu voto e sim, eu amo coentro, mas respeito, com ressalvas, quem odeia.

PS.: Parabéns pra linda e carismática Rainha da Festa da Uva 2026, Elisa dos Santos Pereira D’Mutti, representante do SER Caxias e da Vinhedo Papéis, filha da também lindona Leticia Pereira, Rainha da Festa da Bergamota de 1990, e enteada do Paquito Masia, Rei das Lentes desde sempre. E o traje da Véra Stedile Zattera realmente arrasou.