No momento que este artigo é escrito, acabara de acontecer uma demonstração da vigorosa vitalidade da democracia brasileira em São Paulo. Guilherme Boulos foi lançado como candidato à prefeitura de São Paulo. Ao seu lado no palco estavam o presidente da república Lula, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, a candidata a vice Marta Suplicy, o agora deputado federal Rui Falcão e a deputada federal Luiza Erundina.
A deparar-me com a cena, lembrei-me do ajuste fiscal que o governo Lula precisa fazer. Depois de falas duras até meados de junho, o presidente parou de criticar o Banco Central ou pelo menos a mídia parou de divulgar as críticas. Qualquer que seja o caso, a bolsa brasileira engatou uma sequência de 11 pregões seguidos de alta desde então.
Embora circulassem rumores de que o corte de despesas tenha sido autorizado pelo chefe do executivo, a única mudança que foi realmente efetivada foi aquela que alterou as metas fiscais. O ajuste nas projeções, contudo, não foi suficiente para reduzir a sensação de o governo é muito otimista.
Um relatório da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira (Conof) da Câmara vê o país atingindo o déficit primário zero apenas em 2028. A Fazenda, por sua vez, prevê déficit zero em 2024 e 2025. Ambos concordam que novas medidas de arrecadação são necessárias para ajustar as contas. Por isso, a sana arrecadatória do governo não cessou.
O monitor fiscal do FMI indica que os déficits das contas ´públicas devem ser de 0,6% em 2024 e 0,3% em 2025, isto indica que o governo, seguindo a regra do arcabouço fiscal, teria que contingenciar despesas. Mas sabe-se que o governo pode recorrer ao STF para retirar do teto de gastos o pagamento de alguma despesa, assim como foi feito com os precatórios.
As contas desajustadas devem levar a dívida bruta do governo para cima de 86% neste ano e superar os 90% em 2026. O conjunto de projeções descoladas da realidade, dívida subindo e aumento de impostos trazem uma perspectiva sombria para o crescimento econômico do país para os próximos anos.
A deterioração fiscal exige juros mais altos para manter a inflação sob controle. Juros altos necessariamente deprimem a propensão para investir resultando em uma economia que cresce a um ritmo mais lento. Portanto, poderíamos esperar menos empregos e renda. Em outras palavras, o país entraria em uma crise profunda parecida com a que viveu no governo Dilma com economia encolhendo, desemprego e inflação.
Em momentos como esse, o investidor que gostaria de proteger o seu patrimônio deve considerar uma maior diversificação internacional e alocar em ativos que se valorizam com a alta da inflação.