
Para a última crônica do ano, o meu convite é sobre consciência. Sobre comportamento.
Viajei agora no verão e, em uma das praias onde ficamos, algo simples me atravessou profundamente.
Havia muito lixo espalhado pela areia. Pedi à dona da casa um rastelo e fomos limpar aquele trecho da praia. O curioso — ou talvez o mais simbólico — é que exatamente ali havia várias lixeiras.
Enquanto rastelávamos, meu filho ajudava com entusiasmo e dizia que estava “salvando os peixes”. E ali, naquele gesto tão pequeno e tão grande ao mesmo tempo, eu vi uma geração que já nasce mais consciente do que a nossa, entendendo qual é o seu papel no mundo.
Responsabilidade coletiva
E isso me fez voltar a uma reflexão que já trago em muitas crônicas: não basta ter coleta seletiva no município. Não basta ter lixeiras. Não basta ter leis, políticas públicas e instrumentos ainda que tudo isso seja essencial.
Nada disso, sozinho, muda comportamento. Porque se mudasse, não haveria lixo espalhado na praia. Não haveria galerias entupidas. Não haveria cidades adoecidas.
Ontem mesmo vi o prefeito de Caxias postar que fazia apenas uma semana que uma galeria havia sido limpa e, com a primeira chuva, já estava completamente entupida novamente.
Isso escancara uma verdade que muitas vezes preferimos ignorar: sem consciência, nenhuma estrutura dá conta. Não existe política pública que substitua indivíduos conscientes. Não existe agente de limpeza capaz de compensar a falta de responsabilidade coletiva.
A responsabilidade é nossa
Por isso, quando falo de mudança, não falo apenas de questões ambientais. Comportamento é um reflexo de tudo. Eu costumo brincar — mas é uma brincadeira séria —: como alguém vai respeitar uma árvore se não consegue respeitar o outro?
A transformação que precisamos enquanto sociedade passa por pessoas diferentes. Pessoas que se conhecem. Pessoas que entendem seu impacto no mundo. Pessoas dispostas a fazer escolhas mais conscientes – não só ambientais, mas sociais, humanas, coletivas.
Vivemos um tempo em que se briga por qualquer coisa. Mas pouco se briga pelo que realmente transforma: um ambiente mais limpo, uma sociedade mais saudável, seja mentalmente, seja ambientalmente.
Então, para o próximo ano, a minha sugestão é simples e profunda: que saibamos escolher quais brigas queremos comprar. Não brigas por lado A ou lado B. Mas brigas que sustentem o futuro que dizemos querer.
Porque a verdadeira mudança não começa nas ruas, nem nas leis. Ela começa dentro.