Desenho de pessoas caminhando em uma multidão, todas olhando para seus telefones.
Imagem por Inteligência Artificial

Vivemos em um mundo onde forças invisíveis moldam nosso comportamento muito mais do que admitimos. Chamamos algumas de cultura, outras de tendência, outras ainda de opinião pública. Mas todas elas têm um nome mais antigo, mais preciso e mais honesto: “Egrégora”.

Embora o termo venha do esoterismo e de tradições espirituais, o fenômeno é absolutamente contemporâneo. Basta observar como as redes sociais criam ondas de emoção coletiva — indignação, amor, ódio, empatia — que se espalham com a mesma velocidade de uma descarga elétrica num neurônio gigante. Não por acaso, uma egrégora funciona como uma rede neural: conexões mentais e emocionais repetidas até se tornarem um padrão autônomo.

A Formação e Influência da Egrégora

Uma egrégora nasce da repetição: um grupo rezando pela paz, torcedores vibrando por um time, colegas envolvidos num projeto, fãs de uma série, estudantes defendendo uma causa. Historicamente, o ser humano só sobreviveu porque buscou o coletivo. Tribos, aldeias e comunidades criaram unidades de proteção onde o indivíduo, sozinho, dificilmente resistiria. Quando muitas pessoas pensam e sentem a mesma coisa com intensidade, essa energia coletiva se condensa. Forma-se uma espécie de “campo mental” que paira sobre o grupo e passa a influenciá-lo. É como se o conjunto adquirisse uma mente própria — e nós, dentro dele, começássemos a pensar com a cabeça dessa entidade sutil.

Alimentada por emoções fortes, essa força pode ser luminosa ou sombria. Pode elevar uma comunidade inteira — como movimentos humanitários, grupos espirituais, equipes harmonizadas — ou pode aprisioná-la — como bolhas digitais, seitas políticas, fanáticos tóxicos, campanhas de marketing baseadas em manipulação de massa.

Muitos não percebem, mas livros, filmes, líderes carismáticos e até slogans publicitários podem criar egrégoras poderosas. Algumas surgem espontaneamente; outras são engenhosamente construídas para moldar comportamentos e direcionar escolhas, especialmente no campo político e mercadológico.

Identificando sem se tornar refém

A grande questão é: como identificá-las e não se tornar refém delas?
Um teste simples revela a força do inconsciente coletivo: diga algo para uma pessoa e depois repita a mesma frase diante de um grupo. A reação muda. Aquilo que parecia razoável no diálogo individual torna-se difícil de aceitar quando confronta a vibração dominante da coletividade. Até quem concordava, muitas vezes recua. A egrégora se impõe.

No Direito, vemos isso claramente na jurisprudência. A “uniformização dos julgados” cria um padrão mental que os tribunais passam a seguir quase automaticamente. Romper essa corrente exige diálogo individualizado, reflexão isolada — romper a aura coletiva para que o pensamento próprio possa emergir.

No fundo, a pergunta que permanece é simples e inquietante: quantas das ideias que carregamos são realmente nossas — e quantas pertencem às egrégoras que nos atravessam?