Existe um ditado no Poker que diz o seguinte: na mesa de jogo, se você não descobrir quem é o otário em 30 minutos, o otário é você. Donald Trump um jogador astuto, ameaçou, blefou, confundiu. A estratégia surtiu efeito e ele conseguiu fazer a China negociar com os Estados Unidos. A pausa animou os mercados de ações no mundo todo. O Brasil é o espectador sortudo, favorecido a tal ponto do Ibovespa fazer nova máxima histórica.
Resumo do Mercado:
O mês de abril mostrou novamente que a diversificação é o melhor para o investidor. Todos indicadores domésticos acompanhados foram melhores do que os CDI novamente. As ações brasileiras subiram 3,69% no mês enquanto as ações americanas caíram 0,8%.
Cenário Macro
O governo americano conseguiu avançar sua agenda de negociações comerciais com diversos países. Muitos sentaram à mesa para rever as práticas comerciais e ajustar o que o presidente americano chamou de tarifas recíprocas.
No mês de abril o turbilhão atingiu o mercado de ações e títulos americanos, bem como, as expectativas de uma possível recessão econômica. O PIB do 1T25 apresentou retração de 0,3% e colocou lenha na fogueira dos investidores que estavam tensos desde o início do mês.
Embora a inflação não tenha subido muito e o nível de emprego apresente a mesma resiliência vista nos últimos meses, o Federal Reserve optou por não alterar a taxa de juros e manter a cautela em um momento delicado.
Todavia, houve uma pausa nas tarifas entre EUA e China agora no início de maio trazendo alívio para os agentes de mercado e alterando o cenário da guerra comercial. As tarifas funcionaram como cartas marcadas para os americanos.
Ásia e Europa
A Zona do Euro foi impactada positivamente pelas tarifas no 1T25, pela antecipação de pedidos. Algo que deve reverter-se ao longo do ano. As tarifas colocam mais pressão sobre o Banco Central Europeu para o atingimento da meta de inflação, pois gerem uma pressão deflacionária internamente.
O nível de atividade não apresentou piora como era esperado, também em virtude da antecipação de compras anteriores às tarifas.
A antecipação de importações também favoreceu o PIB do 1T25 chinês. Investidores esperam que o pacote de estímulos de 2 trilhões de RMB sejam implantados para incentivar o consumo interno. A China ainda enfrenta dificuldades no setor imobiliário e nos preços ao produtor que caem desde dezembro de 2022.
Brasil
O Ibovespa renovou as máximas históricas. O ambiente para o mercado brasileiro foi da água para o vinho desde o início do ano. As ações brasileiras sobem mais de 22% em dólar no ano.
A expectativa de fim de ciclo de alta da Selic impulsionou o mercado. O COPOM considera que a economia brasileira está desacelerando e outros fatores podem ajudar no arrefecimento da inflação. O IPCA de abril apresentou alta de 0,41%.
No entanto, alguns economistas discordam do Banco Central. A discordância se dá porque as expectativas de inflação não estão ancoradas. Um provável corte da taxa básica de juros brasileira poderia fazer com que a inflação atingisse patamares mais altos do que os atuais. No Boletim Focus, é esperado atualmente que tenhamos corte de pelo menos 2% na Selic até o final de 2026.
O dólar, grande vilão no final do ano passado, voltou para a região dos R$5,70 e o investidor estrangeiro voltou a ser comprador na bolsa. Algo que não se via há algum tempo.
Conclusão e comentários
O desempenho dos ativos brasileiros é resultado de uma junção de fatores. O primeiro deles é o cenário externo que favoreceu o Brasil. O aumento de risco nas principais economias fez com que houvesse uma realocação de recursos por parte dos investidores em países emergentes. Outro fator, é a expectativa de queda na taxa de juros e a fraqueza apresentada pelo dólar mundialmente.
As negociações de acordos comerciais foram o grande foco do mercado financeiro. Apesar de vários países terem conversado com os americanos, incluindo o Brasil. A conversa mais esperada era com a China, que apresentou um discurso duro desde o início de abril, mas no final aceitou negociar.
Era difícil imaginar que os chineses não negociariam com quem mais compra produtos deles. O hábil Trump tinha isso em mente desde seu primeiro ato. A guerra comercial parece-me mais prejudicial para quem vende do que para quem compra no médio e longo prazo. As críticas lançadas sobre o governo americano pelos especialistas de plantão desconsideraram que real intenção que era negociar por vias diplomáticas e nunca pelo campo militar.
No Brasil, a expectativa de queda da Selic com uma inflação ainda alta, especialmente quando olhamos para os preços dos alimentos, pode gerar um efeito inflacionário muito mais forte e persistente que exigirá um remédio mais duro.
Em outras palavras, o paciente está na cama e ainda pode ter que realizar mais uma cirurgia, porque o governo admitiu que a regra fiscal atual não fica em pé por muito tempo. Este cenário, portanto, mostra que governo e Banco Central podem estar trabalhando de maneira alinhada para 2026 e os problemas fiscais e econômicos devem ficar para o novo governo em 2027.
Essa simbiose que lembra aquela que aconteceu no governo Dilma. Quando as empresas sofreram perdas profundas e os brasileiros viram a taxa de desemprego saltarem. Enquanto isso, o mercado brasileiro decolou, talvez para seu tradicional vôo, mas sem asas.