O ano de 2024 ficará marcado como um dos piores para o mercado financeiro brasileiro. As ações brasileiras caíram aproximadamente 30% em dólar. A despeito da situação do Brasil, o mercado americano e os criptoativos foram muito bem impulsionados pela vitória de Donald Trump nas eleições americanas.
Resumo do Mercado:
O dólar foi o destaque novamente no mês, a moeda americana subiu 3,53%. Na outra ponta, tivemos o índice Ibovespa que recuou 4,28% em dezembro. O índice IMA-B, que reflete o desempenho dos títulos federais indexados à inflação, teve um 2024 difícil e reflete todo risco fiscal do país.
Cenário Macro
Em 20 de janeiro, Donald Trump reassume a presidência dos Estados Unidos da América. Os primeiros 100 dias do governo devem ser agitados. Trump deverá cumprir suas promessas de campanha no que se refere a temas sensíveis como imigração ilegal e barreiras tarifárias.
Pois bem, os fundamentos da economia americana seguem sólidos. O consumo das famílias cresce 2,8% na base anual, o desemprego é baixo e as expectativas para o ano são positivas. Por outro lado, tivemos uma piora da tendência da inflação no final do ano.
Diante deste cenário, a condução da política monetária deverá ser apertada reduzindo o espaço para novos cortes de juros. O que poderia significar que a taxa americana para final de 2025 seria 4,0%-4,25%, ou seja, teríamos apenas mais um corte no ano.
Ásia e Europa
O velho continente caminha usando bengalas e em sentido oposto ao americano. O PMI da Zona do Euro está em nível de retração da atividade econômica. O emprego industrial caiu na Alemanha e França, maiores economias do bloco.
Além dos problemas estruturais que a economia alemã apresenta, em fevereiro ocorrerão eleições no país. A piora fiscal de França e Itália também acende a luz amarela para o futuro do bloco. Por ora, a economia européia está estagnada e a inflação comportada.
Mais ao oriente, a China terá um 2025 desafiador. Trump subirá as barreiras tarifárias e atingirá como um canhão a já combalida economia chinesa. O governo chinês sabe disso e prepara-se para lançar novos estímulos fiscais e para desvalorizar sua moeda na tentativa de enfrentar a disputa comercial.
Brasil
Para falar de Brasil, começarei com uma boa notícia: 2024 acabou. O último trimestre foi um dos piores dos últimos tempos. Nem tanto pelo desempenho geral dos ativos, mas pelo fluxo de notícias que foi minando o ambiente para investimentos no país.
As expectativas são que a relação dívida/PIB ultrapasse impressionantes 84% em 2026. Esta é a métrica que sintetiza o descontrole dos gastos do governo federal. Desta maneira, os investidores esperam uma inflação de 5,5% em 2025.
De fato, o ambiente doméstico se deteriorou rapidamente, por isso, o real perdeu 21% do seu valor em 2024 frente ao dólar e teve o pior desempenho entre as principais moedas do mundo. Nem a queima de US$ 20 bilhões das reservas internacionais segurou a cotação da moeda estrangeira que permaneceu boa parte de dezembro acima de R$6,10. Assim, o fluxo cambial foi negativo de US$15,9 bilhões, terceiro pior da história.
O investidor estrangeiro, por sua vez, retirou das ações brasileiras R$ 32 bilhões. Em dólar, a bolsa brasileira recuou aproximadamente 30%, o terceiro pior resultado da história. A tensão atingiu patamares tão altos que os títulos do governo foram negociados a taxas reais de 8%, ou seja, IPCA+8%. Apenas o desemprego segue em nível historicamente baixo.
Conclusão e comentários
Problemas no âmbito fiscal não são uma exclusividade brasileira. No entanto, nosso governo masteriza o gasto e desperdício de dinheiro público dando de ombros para o problema fiscal. A situação parece mais crítica para os brasileiros, porque nossa vizinha Argentina teve um ano excepcional sob o comando de Javier Milei.
O impulso fiscal que sustenta o orgulho dos políticos ao falarem do crescimento do PIB deverá penalizar os brasileiros em breve, sobretudo os mais pobres. A economia aquecida artificialmente deverá fazer a inflação permanecer fora da meta e apenas uma atuação firme de Gabriel Galípolo, novo presidente do Banco Central do Brasil, pode ajustar esta trajetória. Por isso, estima-se que sem nenhuma mudança estrutural nas contas do governo a taxa Selic deveria ser maior do que 15% para trazer a inflação para dentro da meta.
Sobre o Brasil devem ainda respingar algumas medidas protecionistas de Trump, mas por ser produtor de commodities o país pode se beneficiar do novo cenário. Vale ressaltar ainda que embora esses temas relacionados à imigração e barreiras tarifárias sejam vistos por muitos como prejudiciais, sabemos que ambos geram problemas tanto na questão social quanto de segurança nacional.
Ademais, o grande déficit comercial com a China é um antigo problema que os americanos querem resolver. Todo esse rearranjo na Casa Branca deveria causar um efeito inflacionário no curto prazo. Contudo, o corte de impostos sobre as empresas, redução do déficit fiscal e aumento da eficiência do governo através de modernização e desburocratização balanceará positivamente o ambiente da economia norte-americana.
As tarifas de Trump atingirão também a Europa. Um dos assuntos que pouco se fala é sobre como a economia da Alemanha vem sofrendo após o desligamento das plantas de energia nuclear. A decisão foi tomada porque supostamente ajudaria o meio ambiente ao incentivar a geração de energia renovável solar e eólica, mas elevou, de fato, o preço de energia e reduziu a competitividade do parque fabril alemão.