COLUNA

A COP 30 e o preço da consciência

Um evento destinado a discutir inclusão, justiça climática e o futuro da humanidade está erguendo uma barreira financeira que seleciona quem poderá se sentar à mesa

Vista aérea de Belém, Pará, com mercados, prédios históricos e rio.
Imagem: © Frame TV Brasil / Agência Brasil

A contagem regressiva para a COP 30, em novembro de 2025, já começou. Belém do Pará, o coração da Amazônia, se prepara para ser o centro do mundo. Nos bastidores do planejamento, no entanto, um ruído desconfortável começa a ficar mais alto que o som das motosserras que tanto queremos silenciar: o preço para participar do debate sobre o futuro do planeta.

Passagens aéreas estratosféricas, diárias de hotel que rivalizam com o PIB de pequenas cidades, uma logística que transforma o acesso em um artigo de luxo. O paradoxo é
gritante. Um evento destinado a discutir inclusão, justiça climática e o futuro da humanidade está, na prática, erguendo uma barreira financeira que seleciona quem poderá se sentar à mesa.

Isso nos leva à pergunta central: quem, de fato, estará naquelas salas de decisão? E, mais importante, com que nível de consciência essas decisões serão tomadas?

Não falo de consciência no sentido vago, etéreo. Falo de um estado de percepção aguçado sobre a interconexão de três pilares que definem qualquer liderança relevante: o social/cultural, o ambiental e o econômico. Um líder que opera com baixa consciência
enxerga esses pilares como caixas separadas, muitas vezes conflitantes. Para ele, o lucro
briga com a floresta, e o social é um custo, não um investimento.

Já o líder de alta consciência – aquele de que precisamos desesperadamente na COP 30 e
fora dela – entende que esses pilares são um ecossistema único e indivisível.

Visualizando a Consciência do Líder

  • O Líder no Porão: Possui uma visão limitada. Vê apenas os custos imediatos, as metas do trimestre, a pressão dos acionistas. Para ele, uma regulamentação ambiental é um obstáculo e uma exigência social é um fardo. Suas decisões são reativas, focadas em mitigar perdas de curto prazo.
  • O Líder na Cobertura: Tem uma visão panorâmica, sistêmica. Vê a cidade inteira, as mudanças climáticas, as novas tendências de consumo, a bioeconomia como um mercado emergente e os movimentos sociais. Entende
    como seu negócio se encaixa nesse cenário complexo. Para ele, investir em sustentabilidade não é filantropia, é estratégia de inovação. Proteger a comunidade não é um custo, é fortalecer seu mercado e sua licença social para operar.

A tragédia anunciada da COP 30 é que, ao precificar o acesso, corremos o risco de encher
as salas com “líderes de porão”. Aqueles que podem pagar a conta, mas talvez não possuam a visão de cobertura necessária para tomar as decisões que o mundo precisa.

Onde estarão os representantes da sociedade civil, os pequenos agricultores, os empreendedores de comunidades ribeirinhas que vivem a emergência climática na pele, e
não em relatórios? É fundamental que a contribuição de cada um, a partir de seu lugar de fala, ajude a construir este novo cenário. Afinal, como podemos discutir os impactos na vida das pessoas sem ouvir quem os sente na própria pele? A sociedade precisa estar bem
representada, com lideranças conscientes e com conhecimento de causa.

O episódio também expõe um grito antigo do Brasil: a sua carência de infraestrutura para eventos desta magnitude. Os preços absurdos não são apenas um reflexo da demanda,
mas também da nossa própria limitação, excluindo grande parte da população brasileira e mundial de um debate que lhes pertence.

As assinaturas nos documentos da COP 30 não serão meras formalidades. Serão contratos
com futuros possíveis. São os rastros que definirão a qualidade de vida, a estabilidade econômica e a justiça social para as próximas gerações. E a qualidade dessas decisões será um reflexo direto do nível de consciência de quem as tomar.

A pergunta que fica é para todos nós, em nossas empresas, cidades e comunidades: estamos operando do porão ou da cobertura?

Porque, no fim das contas, o clima não negocia. A natureza não se importa com o preço da diária do hotel. Ela apenas reage aos rastros que deixamos. E o nível de nossa consciência, hoje, determinará a dureza dessa reação amanhã