A gente acha que a vida tá boa, tranquila, e de repente vem uma meleca que puxa nosso tapete de jeito, pra cair sentado de bunda no chão, e com as mãos no bolso.
Já era pra gente ter aprendido com a pandemia, ou com os desastres naturais e artificiais que só quem vive nesse planeta deveria saber: nada é certo, nada é pra sempre e muita coisa não faz sentido. E veja bem, não estou falando de imprevistos previsíveis, como as consequências de eleger políticos falsianes ou extremistas, ser negacionista, vícios e comportamentos destrutivos, ou da chegada de uma herança em uma família milionária, pra não ficar só nos exemplos desgraceira.
Uma vez eu inventei de construir uma casa. Achei que tinha tudo sob controle, do orçamento, mão de obra e compra do material. Preciso contar ou vocês me contam? Deu tudo errado, gastei mais que o triplo, a mão de obra começou a fazer mais duas obras ao mesmo tempo e não terminou nenhuma, e acabei me mudando pra uma casa inacabada, sem vidros e que chovia dentro. E cheia de contas pra pagar. Mas como desgraça pouca é bobagem, depois de 7 anos morando num campo de obras, a casa finalmente ficou pronta, como eu queria. Alguns meses depois meu marido morreu, mesmo com a gente vivendo na casa dos sonhos. Pouco mais de um ano depois eu me mudei da casa, e só voltei 7 anos mais tarde. Ahhh, mas o número 7 … nem pense em justificar os imprevistos com numerologia, astrologia ou qualquer outra magia. O universo tem mais o que fazer do que interferir na sua vida, alecrim dourado.
A vida não seria vida se não fosse feita de imprevistos, e a gente tem que se acostumar, ou melhor, se preparar para não achar que tem tudo sob controle. Os exemplos estão aí na sua vida, na vida da sua família e amigos ou de qualquer desconhecido. Não tem coincidência, não tem motivo, é simplesmente uma combinação de fatores aleatórios sem sentido, que resultam numa mudança, às vezes radical, na nossa vida. Aceite, que dói menos.
Semana passada meu cunhado foi passar a mão num cachorrinho fofo que tava abanando o rabo pra ele. Acabou o domingão no centro cirúrgico sem a ponta do dedo. Uma amiga passou a vida trabalhando enlouquecidamente até se tornar diretora de uma empresa americana, pensando numa aposentadoria tranquila, e quando conseguiu realizar o sonho de morar na beira da praia ganhando em dólar e tomando margaritas, teve um aneurisma e morreu. Minha filha planejou uma viagem por meses para um lugar paradisíaco, no primeiro dia na ilha caiu de bicicleta e a viagem mudou completamente de rumo. Nada combinado, tudo pra ser resolvido.
Quando alguém diz que teve um imprevisto, a gente já espera: deu merda! Mas nem todo imprevisto é ruim, a gente que lembra mais do que deu errado. Escrevendo agora, consigo lembrar mais de tragédias, mas pensando melhor, teve a vez que por causa de um trabalho que não seria meu, e com a viagem inesperada da outra candidata, conheci minha melhor amiga, teve a porta que bateu e deixou minha filha pro lado de fora da casa, na neve, e que rendeu uma história épica e divertida que até hoje lembramos, teve a depredação da minha casa por uma inquilina que me fez iniciar um novo negócio que deu certo, e teve o feliz acaso de conhecer meu atual marido, pela segunda vez, numa situação totalmente imprevista e improvável. Em todas essas situações, que tinha tudo pra dar errado, e deu em algum momento, acabou dando certo.
Fica aqui no título da coluna a sugestão para a criação de uma disciplina obrigatória nas escolas, começando já na educação infantil e seguindo vida afora. As atividades serão práticas e em carga horária integral enquanto o pulso ainda pulsar, abrangendo tópicos que vão de como viver a realidade sem coaches nem profetas, a como transformar limões em qualquer coisa que te faça feliz, de um pomar na casa dos sonhos a margaritas na beira da praia.