Diante da rápida multiplicação dos serviços de streaming que exibem jogos de futebol no Brasil, a tabela de pontos de um campeonato deixa de ser a única preocupação dos fãs de esportes. Entram em campo, também, as dúvidas de tecnologia.
O objetivo deste artigo é mais do que ajudar a explicar como usar uma VPN para ver jogos. Vamos mostrar principalmente se é interessante empregar essa tecnologia com essa finalidade ou se isso deve ser evitado.
Aspectos gerais de uma VPN
Uma VPN é uma rede privada virtual (do inglês, “Virtual Private Network”), que estabelece uma conexão criptografada entre o dispositivo de um cliente e sites e aplicativos de internet.
Há numerosos serviços de VPN à disposição, que podem variar quanto o tipo de protocolo de segurança usado em suas comunicações e nas localizações de seus servidores. Em regra, as empresas intermediam e codificam as conexões de seus clientes.
O tráfego é feito numa rede privada, sob seu controle. Alguns serviços oferecem ferramentas adicionais de cibersegurança.
As dúvidas morais da VPN e do streaming
Não existe um argumento técnico plausível para não usar um serviço de VPN de confiança. É uma tecnologia que visa a aumentar segurança, privacidade e, às vezes, a velocidade da conexão de internet.
Entretanto, o uso dessa ferramenta por vezes é questionada moralmente. No caso das transmissões de futebol (ou de outro tipo de entretenimento audiovisual), serviços digitais compram direitos de exibição das imagens de torneios esportivos para seus clientes.
Uma VPN pode ser usada para burlar certas restrições que essas empresas impõem para cumprir as leis. Além disso, também pode ajudar a contornar limitações impostas por serviços de provedores de internet.
Como o mundo virtual tem barreiras e situações que não são exatamente as mesmas do mundo real, as respostas a essas dúvidas às vezes não são tão claras como gostaríamos.
Entenda, nos tópicos a seguir, como uma VPN funciona para superar barreiras dos streamings – e porque isso poderia ser um problema moral.
“Tapeando” provedores de internet
Em muitos países, provedores de internet têm o direito de limitar o consumo de internet de clientes específicos, usando como base, o consumo de dados acima da média da clientela. Plataformas de streaming de vídeos requerem uma capacidade boa de conexão e, por isso, fãs de esportes por vezes são lesados com essa prática.
A possibilidade de usar uma VPN para se conectar a servidores espalhados por outros países permite contornar essa restrição. A privacidade de navegação evita a identificação, pelos provedores, dos destinos visitados por cada indivíduo. Assim, não é possível limitar a banda da conexão com base em quais consumidores “merecem” transferir mais ou menos dados.
O ponto positivo: Conseguir ver jogos sem perda de qualidade na imagem ou diminuição de velocidade de conexão.
A dúvida moral: os provedores de internet têm o direito a limitar a banda em certos países. Contornar isso não vai contra as obrigações contratuais dos clientes e o direito das empresas?
A nuance complexa: no Brasil e em muitos outros países, empresas de internet não estipulam obrigações contratuais de não usar os protocolos de comunicação de VPN. A conexão por rede privada não vai contra a lei, com algumas exceções.
Ultrapassando a geolocalização
Quem nunca se deparou com um site de empresa internacional todo escrito em português? Mesmo acessando-o pela primeira vez, a página detecta que o leitor usa a língua portuguesa para se comunicar.
Da mesma forma, como é que serviços de streaming de jogos e de filmes oferecem catálogos com opções de atrações locais em destaque e restringem o acesso a conteúdo de outros países?
Para isso, é preciso saber de onde cada pessoa acessa o serviço. A localização individual que as plataformas de streaming conseguem fazer somente é possível por causa do endereço de IP. Esse atributo existe para cada computador ou celular que se conecta à internet.
Uma VPN usa servidores privados, geralmente espalhados em diversos países, para oferecer uma conexão segura e privativa a seus usuários. Essa dinâmica de funcionamento “camufla” o IP dos clientes e permite contornar bloqueios regionais de conteúdo, como os impostos por serviços de streaming de esportes.
O ponto positivo: ter acesso à transmissão de jogos e torneios normalmente bloqueados numa região específica.
A dúvida moral: isso é ilegal? A exibidora dos jogos geralmente cria bloqueios regionais para honrar obrigações legais dos contratos de direitos de imagem com ligas esportivas.
A nuance complexa: tecnicamente, nenhuma lei está sendo infringida. A realidade digital oferece possibilidades que os contratos de direitos de imagem muitas vezes não preveem, o que indica que talvez precisem ser repensados para um mundo pós-TV a cabo.
Além disso, as empresas se adaptam a esse tipo de desafio. Algumas plataformas usam rastreadores e outros artifícios para detectar se os usuários estão usando uma VPN e negam acesso a eles, por via das dúvidas.
Acesso clandestino
Fora dos dois tópicos morais abordados acima, existe um outro bastante sério, que não necessariamente tem a ver com VPN. O uso de links de streaming clandestinos é uma prática difundida para ter acesso gratuito a jogos.
A clandestinidade é uma faca de dois gumes, que lesa tanto as empresas quanto os clientes. Do ponto de vista das empresas, obviamente é uma atividade criminosa que infringe o direito de imagem das ligas esportivas. Milhares de sites do tipo são retirados do ar todos os anos por decisões judiciais.
Do lado dos espectadores, o risco maior é a disseminação de malwares. Os links geralmente têm finalidade comercial e, como é contra a lei ganhar dinheiro com a transmissão, os donos dos sites hospedam anúncios publicitários sem muito critério e podem ser vetores de vírus e rastreadores daninhos.