PESQUISA

Serra Gaúcha é cenário de pesquisa sobre o butiá-da-serra e ameaças à espécie nativa

Outra frente do projeto analisa a cadeia produtiva do butiá, aproximando a oferta e a demanda por seus derivados e fortalecendo o aspecto econômico e sustentável da cultura

Foto: Fernando Dias/Ascom Seapi
Foto: Fernando Dias/Ascom Seapi

Rio Grande do Sul - Pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) iniciaram um estudo inédito sobre o butiá-da-serra (Butia eriospatha) — espécie nativa e única exclusiva da Mata Atlântica, presente nos Campos de Cima da Serra e nas Matas com Araucária.

O trabalho busca compreender os fatores que influenciam a produtividade dos frutos, a polinização natural, o tipo de solo, o funcionamento da cadeia produtiva e o ataque de pragas, como o besouro Rhynchophorus palmarum, conhecido como broca-do-olho do coqueiro.

Na última semana, a equipe visitou uma propriedade em Bom Jesus, que possui cerca de duas mil mudas de butiá, para o primeiro levantamento técnico.

Estudo e Produtividade do Butiá

Segundo o pesquisador Bruno Lisboa, do Laboratório de Solos do DDPA, o estudo pretende identificar os minerais necessários para aumentar a produtividade do butiazeiro e estabelecer uma faixa de suficiência nutricional da espécie.

“Queremos compreender como o potencial produtivo das plantas se relaciona com a concentração de macro e micronutrientes em suas folhas”, explica Lisboa.

Cadeia Produtiva e Economia Local

Outra frente do projeto analisa a cadeia produtiva do butiá, aproximando a oferta e a demanda por seus derivados e fortalecendo o aspecto econômico e sustentável da cultura.

“Buscamos conhecer as unidades processadoras, canais de comercialização e as dificuldades enfrentadas pelos produtores”, afirma a pesquisadora Larissa Ambrosini.

Polinização e o Papel das Abelhas Nativas

O estudo também investiga o papel das abelhas nativas na polinização das palmeiras e na origem floral do mel produzido em áreas com butiazeiros.

“A polinização é um processo-chave para a reprodução dessas palmeiras. Conhecer os polinizadores e a origem floral do mel ajuda a criar estratégias de manejo sustentável”, explica a bióloga Sídia Witter.

No primeiro ano do estudo, serão instaladas 15 colônias de abelhas-sem-ferrão próximas aos butiazais, com posterior análise do mel para identificar sua origem botânica.

Monitoramento de Pragas e Conservação

A pesquisa inclui ainda o monitoramento da broca-do-olho do coqueiro, besouro que pode causar a morte das palmeiras. Segundo o pesquisador Adilson Tonietto, o inseto começou a ser registrado no Rio Grande do Sul a partir de 2018. Armadilhas serão instaladas para avaliar a ocorrência e a distribuição do inseto durante o ano.

Conservação e valorização do butiá

O coordenador do estudo, Gilson Schlindwein, destaca que o projeto também busca integrar conservação e geração de renda em áreas com butiazais nativos.

“Essa iniciativa contribui não apenas para preservar a espécie e seu habitat, mas também para valorizar a identidade regional associada ao butiá serrano”, ressalta.

O projeto faz parte do programa “Integrando conservação e geração de renda através do manejo, cultivo e valorização econômica em áreas com butiazeiros nativos do RS”, financiado com recursos da Reposição Florestal Obrigatória (RFO) da empresa CPFL, com intermediação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).

Participaram da visita técnica em Bom Jesus os pesquisadores do DDPA Adilson Tonietto, Bruno Lisboa, Gilson Schlindwein, Larissa Ambrosini e Sídia Witter, o fotógrafo Fernando Dias (Ascom Seapi) e o gerente regional adjunto da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul, Orlando Júnior Kramer Velho.