Produtores de Queijo Artesanal Serrano de Bom Jesus estão em festa. Nesta semana, durante a Expointer, o governador Eduardo Leite sancionou o Projeto de Lei 512/2023, que declara o município como capital estadual do Queijo Artesanal Serrano. O produto, que também já é patrimônio imaterial do Estado, destaca-se por elevada importância cultural e econômica para pecuaristas de pequenas e médias propriedades da região. A tradição começou com a povoação da área pelos portugueses no século 18.
Uma das agroindústrias de Bom Jesus que produz Queijo Artesanal Serrano é a Queijaria Don Boschi, que está no estande 24 do Pavilhão da Agricultura Familiar na Expointer. Marilene Boschi e seu marido, Cláudio Guglieri, regulamentaram a propriedade em 2023. “Primeiro com o selo SIM, posteriormente com Selo Arte”, explica Guglieri.
Segundo ele, a queijaria produz em torno de 10 a 12 quilos de queijo por dia. “Hoje temos cerca de 10 vacas em lactação e um total de 40 vacas de leite”, contou. “Na verdade, o que diferencia o queijo serrano do queijo colonial é que ele é feito com leite cru. Ele sai da sala de ordenha direto para a queijaria. Só vai leite, coalho e sal”.
De acordo com o produtor, um dos argumentos de venda é que é um queijo de 200 anos. “Ele já tem uma história. Começou com os tropeiros em torno de 1700. Eles trocavam o produto por outras mercadorias em São Paulo e outros estados. E hoje, em Bom Jesus, tem muita gente regularizando seus negócios”.
Para Guglieri, Bom Jesus ser considerada a capital estadual do queijo serrano dará uma impulsionada nos negócios. “Esse é um argumento até de venda”, destaca. “A gente vende em torno de 350 quilos de queijo por mês. São distribuídos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina”, fala com orgulho.
Agroindústria Chácara dos Padres
A Agroindústria Chácara dos Padres, também de Bom Jesus, está no estande 107 do Pavilhão da Agricultura Familiar. “É uma propriedade familiar, trabalho com minha esposa e três filhos”, conta Alexander Liz. “Produzo queijo serrano desde que eu me conheço por gente. São sete gerações na família que produzem o queijo serrano. Sou filho de pecuarista. Fui médico por 20 anos, mas retornei há oito para fazer queijo”.
Conforme Liz, como o queijo serrano depende de pastagem, a produção varia de acordo com a época do ano. “Tem períodos que produz mais, outros menos. Mas em média, nossa agroindústria produz cerca de 15 quilos por dia”.
Ele conta que seus animais são vacas de corte e não de leite. “O nosso modo de produção é a pasto, é queijo a pasto. As vacas ficam na pastagem e não comem nem um tipo de ração, nem silo, só pasto. E é feito com leite cru, na hora, no mesmo dia, com leite da própria fazenda”.
Segundo Liz, além dessa diferença, o queijo serrano é maturado acima de mil metros de altitude. “Isso faz com que ele seja único no mundo. Por isso tem denominação de origem (DO). Significa que ele foi inventado e tem uma característica exclusiva”.
Para Liz, Bom Jesus ser a capital estadual do queijo serrano é “a maior vitória que o povo gaúcho poderia ter”, comemora. “Porque o Rio Grande do Sul durante muitos anos foi esquecido quando se falava de queijo. Ninguém nunca tinha valorizado o nosso estado dessa maneira”.
“E hoje quando nós participamos de concursos pelo Brasil afora e mundo afora, nós trazemos medalhas. Trazemos o reconhecimento para o Rio Grande do Sul. Então é uma felicidade para nós que o governo comece a valorizar o produtor rural, principalmente os pequenos produtores. Hoje nós temos mais de 100 queijarias produzindo queijos artesanais de alta qualidade”, diz com orgulho
Sobre o Queijo Artesanal Serrano
A produção do queijo artesanal serrano começou há mais de dois séculos, com o estabelecimento das primeiras fazendas na região dos Campos de Cima da Serra. A produção do queijo serrano surgiu concomitantemente à atividade pecuária de corte extensiva na região, empreendida por colonos portugueses.
O Queijo Artesanal Serrano é um produto de grande importância econômica e ambiental para a região dos Campos de Cima da Serra. Em muitos casos, a produção é a principal renda de pecuaristas familiares, que dependem da atividade para a manutenção de suas famílias.
Além disso, as peculiaridades de sabor e textura do queijo serrano se devem à técnica de produção artesanal aplicada sobre matérias-primas locais (gado de corte e pastagem) adaptadas ao clima da região, fazendo a produção ser vinculada à preservação da paisagem e seus recursos como forma de manutenção das especificidades do queijo atreladas aos seus insumos.