SAFRA 2025

Bento Gonçalves prevê 92 milhões de quilos de uva e safra promissora em 2025

Na Capital Nacional do Vinho, clima favorável e avanços tecnológicos impulsionam otimismo para uma produção de qualidade após anos de desafios

Safra da Uva
Foto: Dandy Marchetti/ Ibravin

A colheita da safra de uva já começou há algumas semanas na Serra Gaúcha, com destaque para as variedades Niágara branca e rosada, além da BRS Clara, cultivada sob plástico. Já as uvas destinadas à vinificação devem começar a ser colhidas no início de janeiro, com o Chardonnay abrindo a temporada. O forte da Vindima, no entanto, está previsto para fevereiro, estendendo-se até o início de março.

Com um cenário positivo desenhado, mesmo após catástrofe climática, agricultores e vinícolas aguardam com otimismo o desenvolvimento completo da temporada. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua e coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Ricardo Pagno, a expectativa é de uma boa safra.

“Em relação a produtividade das uvas, não é uma super safra, não é uma safra 100% cheia, digamos assim, mas é uma safra boa. A uva está bonita, é uma quantidade boa, uma safra normal, digamos assim. A questão das viníferas é um pouco menos, pois temos algumas com pouca produção. Isso tudo se reflete em virtude do clima da última safra, muito chuvoso e acabou afetando a produção desse ano”, avalia.

O preço mínimo da uva

A Comissão Interestadual da Uva propôs ao Governo Federal o custo de produção da uva para a safra 2025 na Serra Gaúcha entre R$ 1,68. Esse valor considera todos os custos envolvidos, como mão de obra (familiar ou contratada), agrotóxicos, insumos, adubos e maquinários. A partir disso, o governo estipulou o preço mínimo em R$ 1,69, atendendo às expectativas dos agricultores.

Embora não inclua custos variáveis, esse valor representa um avanço significativo. Conforme Pagno, após quatro safras com preços abaixo do mínimo, os agricultores aguardam uma safra rentável.

Nosso custo de produção está em 1,68, então a gente vê com bons olhos, o governo ter estipulado o preço mínimo em 1,69, e está atingindo o nosso custo. Claro, a gente está falando em custo de produção. Então não conta aí também o custo variável, que são outras despesas, mas de certa forma entendemos que, pelo menos, está atingindo o nosso custo de produção”, analisa.

Além disso, o presidente do sindicato ressalta que este ano os estoques já estão praticamente zerados, tanto de suco como de vinhos. A partir disso, se prevê um bom lucro para os produtores.

“A procura pela uva está grande e tudo indica que tenhamos aí preços superiores ao preço mínimo, seguindo os parâmetros da última safra até alguma coisa a mais. Então a gente fica com uma expectativa boa em relação ao preço, porque o agricultor também tem que se capitalizar um pouco. Pois a gente vende três a quatro safras aí com queda de produção, com preços abaixo do preço mínimo”, completa.

Na Capital Nacional do Vinho

Bento Gonçalves, segundo maior município produtor da região, conta com cerca de 4.600 hectares de vinhedos, entre variedades americanas, híbridas e viníferas, destinadas tanto à mesa quanto à vinificação. A previsão é de uma produção entre 90 e 92 milhões de quilos de uva, atingindo o patamar de uma safra normal.

Segundo o chefe do escritório da Emater-RS/Ascar, Thompson Didoné, as condições climáticas ao longo do último ano foram determinantes para o bom desenvolvimento dos vinhedos.

“A uva necessita, conforme a variedade, de um acúmulo de horas de frio abaixo de 7,2 graus centígrados. Então, esse acúmulo pode variar nas variedades precoces americanas de 150h até as viníferas tardias, como o Cabernet e Merlot, com um pouquinho mais de 400h de frio acumulado durante o inverno, abaixo de 7,2 graus. Este ano a gente teve acima de 400h de frio acumulada, então isso resultou numa brotação muito boa, porque esse acúmulo de horas de frio interfere diretamente na quantidade e qualidade da brotação. Então, nós tivemos uma brotação muito boa, com a emissão de cachos de uma safra normal”, explica.

Após dois anos de adversidades, incluindo quebra de safra e eventos climáticos extremos, como secas, a expectativa para 2024 é de uma safra de uvas de boa a muito boa qualidade.

“Neste ano teremos uma safra normal e mais produção em relação à safra do ano passado, porém chegando a um nível, a um patamar de uma safra normal. Muita gente vai falar, não, eu tenho 30% a mais que o ano passado, tenho 20% a mais. Claro, porque o ano passado a safra era menor, agora nós estamos entrando em um patamar de uma safra normal com perspectiva de excelente produto”, destaca Didoné.

Desafios superados e tecnologia na Serra Gaúcha

Embora as condições atuais sejam favoráveis, a agricultura enfrentou desafios ao longo do ano. As chuvas intensas de maio causaram deslizamentos de encostas e erosão do solo, afetando vários vinhedos na região. A recuperação, segundo Didoné, tem sido rápida graças ao esforço dos agricultores e à adoção de práticas recomendadas pela Emater.

“Acho que o maior desafio nosso neste ano foram essas chuvas, porque mesmo aquele vinhedo que não sofreu com os deslizamentos, o solo foi lavado. E aquilo que a gente vem apregoando há muitos anos, que é uma bandeira da Emater, que foi a primeira empresa que passou a divulgar essa tecnologia, que parece simples, mas que é essencial no cultivo de qualquer frutífera, não só de uvas: trabalhar com o manejo de plantas de cobertura de solo, seja plantas nativas, seja plantas semeadas. E esse ano ficou bem claro que aquele vinhedo que tinha cobertura de solo, ele sofreu muito menos com a lavagem de solo devido às águas da chuva do que aquele vinhedo que estava desprotegido. Sem contar que no ano de seca, quem maneja essas plantas de cobertura de solo tem uma maior retenção de água”, ressalta.

Outra tecnologia que Didoné destaca é a máquina de colher uva, que diminui a necessidade de mão de obra contratada. Além disso, o equipamento, que já está sendo utilizado por alguns produtores, reduz o esforço excessivo durante a Safra.

“Já vem há algum tempo sendo divulgado. Evidentemente que é algo que tem que preparar vinhedos, e alguns já estão sendo preparados”, diz o chefe de escritório.

O mais recente avanço, mas que ainda não está muito bem difundido, é o uso de drones no campo para tratamento fitossanitário.

“O drone expõe ou não expõe o agricultor a riscos com a utilização de máquinas em nosso relevo íngreme. Com ele há uma cobertura homogênea e em toda área, de forma uniforme. É uma tecnologia que está sendo ainda validada e não está sendo amplamente divulgada. Mas, com certeza, é o futuro da agricultura. A gente observa grande interesse das próprias vinícolas, das empresas e dos agricultores. É algo que vem para inovar e oferecer uma diminuição no custo de produção e maior segurança na aplicação. Se o agricultor faz 20 aplicamentos fitossanitários no vinhedo, passar a fazer dez com o trator e dez com o drone já é uma grande vantagem”, conta.