O impasse entre a administração municipal e os servidores públicos de Caxias do Sul ganhou novos capítulos na tarde desta quarta-feira (21). O prefeito Adiló Didomenico e o vice-prefeito Edson Néspolo reuniram-se com a imprensa para detalhar a situação financeira da prefeitura e as negociações com o Sindicato dos Servidores Municipais (Sindiserv), que permanece em estado de greve desde a última sexta-feira (16).
Durante a coletiva, Adiló afirmou que, em sua avaliação, a antecipação de valores à categoria representou um erro estratégico. No início de 2025, o município havia concedido um reajuste de 4,83%, correspondente à recomposição da inflação. A nova proposta prevê 1% de ganho real ainda neste ano e mais 0,5% em 2026.
O prefeito também declarou que a proposta relacionada à Lei Complementar 409 — uma reivindicação de 14 anos do Sindiserv — tem validade apenas até o fim desta quarta-feira. Para viabilizar a oferta, a prefeitura precisou bloquear parte do orçamento de diversas secretarias, com respaldo técnico. Segundo Adiló, manter esse estrangulamento financeiro sem garantia de aceitação da proposta é inviável. Ainda assim, ele indicou que as negociações sobre reposição e ganho real poderão seguir caso a proposta da 409 não avance.
Ele destacou que a proposta representa um investimento considerável para solucionar uma demanda histórica do funcionalismo. Caso os servidores rejeitem o acordo, considera que a administração terá feito a sua parte e que a responsabilidade não poderá ser atribuída ao Executivo. O prefeito classificou a oferta como um “momento histórico” e afirmou que dificilmente outra gestão, diante da atual situação financeira do município, faria um sacrifício semelhante.
A Comissão de Negociação do Executivo apresentou uma nova proposta ao Sindiserv na terça-feira (20), que inclui:
- 1% de ganho real na folha de setembro de 2025;
- 0,5% de ganho real na folha de abril de 2026;
- Reajuste de 22% no auxílio-alimentação, sendo 11% em junho de 2025 e 11% em abril de 2026.
O Sindiserv levou os termos à categoria, que rejeitou a proposta em assembleia. A maioria dos servidores decidiu manter o estado de greve. A presidente do sindicato, Silvana Piroli, reconheceu avanços em relação à proposta anterior, mas afirmou que os prazos e índices apresentados foram considerados insuficientes. Uma nova assembleia foi convocada para esta quarta-feira, em frente ao Centro Administrativo Municipal.
Questionado se esperava uma reação tão negativa por parte dos servidores, mesmo após o repasse antecipado do índice inflacionário, Adiló Didomenico disse que ficou surpreso com o rumo da negociação.
“Eu nunca imaginei que chegasse a esse ponto, e até não culpo o sindicato, porque ele sempre tratou em alto nível conosco. Acho que o erro estratégico deles foi deixar figuras que subiram ao palanque, fizeram pronunciamentos proferindo inverdades, inflamando os servidores contra nós.”
Segundo o prefeito, agentes políticos teriam contribuído para a radicalização do debate, insuflando os servidores com informações distorcidas e dificultando o avanço das negociações. Para ele, atender integralmente às demandas do funcionalismo colocaria em risco as finanças do município, que já estariam operando no limite orçamentário.
Impasse e Negociações
O vice-prefeito Edson Néspolo também comentou o cenário de impasse. Ele afirmou que não tem expectativa de uma retomada ampla dos serviços públicos ainda nesta semana. A exceção, segundo ele, é a educação infantil — setor em que há a expectativa de que a situação seja resolvida até o fim da semana.
Néspolo avaliou que esta negociação com os servidores é diferente de todas que presenciou em administrações anteriores, como as de José Ivo Sartori, Alceu Barbosa Velho e Mário Vanin. De acordo com ele, o principal entrave foi a sobreposição das pautas da Lei Complementar 409 com a do ganho real. Para o vice-prefeito, essa junção acabou dividindo a categoria e gerando impasses tanto para o Executivo quanto para o Sindiserv.
Ele explicou que a 409 interessa especialmente a servidores como médicos, guardas municipais e agentes de trânsito, enquanto o magistério tem mais interesse no ganho real. “A administração não tem fôlego para contemplar a 409 e mais ganho real”, afirmou, reforçando que o governo já concedeu 4,83% de reajuste no início do ano e está propondo 1% de ganho real, totalizando 5,83%.
Uma nova rodada de negociações ocorre nesta tarde.