Grandes empreendimentos são barrados no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. Entenda a questão

Na última segunda-feira (21) o Conselho Distrital de Planejamento do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves realizou uma reunião para debater a construção dos grandes empreendimentos na região turística. No encontro, falou-se no impacto social que estes negócios devem causar. A decisão culminou na não aprovação da construção de duas grandes estruturas, o BeWine Resort e o Gramado Park.

Como deve funcionar a aprovação ou reprovação

Para que os empreendimentos pudessem ter as obras iniciadas, era necessário que o Conselho Distrital aprovasse os projetos, bem como o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB). Ainda no ano passado o órgão da prefeitura havia aprovado os projetos, porém, durante a reunião realizada na segunda-feira, houve uma reprovação por conta do conselho. Em votação, cujo placar ficou 8×2, não houve autorização para prosseguimento dos empreendimentos.

O que diz o Conselho Distrital

O Conselho Distrital defende que a presença destes grandes empreendimentos acaba desfigurando o Vale dos Vinhedos. Ação esta que pôde ser percebida ao longo dos anos pela instalação de outros negócios da rede hoteleira e outros setores. Ainda conforme o conselho, a implementação destes projetos deve causar no futuro uma grande elevação de preços nos terrenos da região, impossibilitando que novas gerações de pequenos agricultores e empreendedores possam instalar-se para operar com o enoturismo.

“Nos últimos anos, a perda de terras cultivadas na área do Vale, provocada pelo aparecimento de edifícios hoteleiros, vitivinícolas, comerciais e outros, está a ter um impacto negativo na qualidade do produto turístico. Pode parecer que esse aumento urbano reflete o sucesso do produto, mas é um equívoco. O enoturismo, que é procurado em todas as áreas vitivinícolas, manifesta-se em produtos de qualidade incompatíveis com grandes infraestruturas hoteleiras ou comerciais, mais típicas do turismo de praia do que do turismo interior baseado no substrato rural.
A área do Vale dos Vinhedos deve copiar os modelos de sucesso de áreas vitícolas de qualidade como Napa Valley, Mendoza ou Bordeaux, onde o importante é a vinha e não os serviços turísticos, que podem estar longe das áreas de cultivo.
Se esse tipo de iniciativa for empreendida, em poucos anos se observará como o turismo diminui de qualidade e inicia uma deterioração já observada em outros tipos de turismo de massa, como o turismo de praia ou o turismo de compras.
Nosso conselho é estabelecer áreas comerciais e residenciais, que são necessárias, longe das áreas agrícolas que são o principal recurso do enoturismo. O Vale dos Vinhedos deve proteger os espaços agrícolas e a Denominação de Origem deve ser a instituição que garante essa dedicação agrícola exclusiva.
A chegada massiva de visitantes diminuirá rapidamente a qualidade do turismo e aumentará os problemas já observados em outros tipos de turismo.”

Posição da Associação de Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos

Em carta divulgada pela Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), é dito que “Levamos ao Conselho Distrital do Vale dos Vinhedos uma posição que, infelizmente, talvez não seja simpática aos olhos de muitos empreendedores, mas que salvaguarda o que temos de mais importante- nosso território vitivinícola, nosso desenvolvimento sustentável e o fortalecimento da nossa D.O.
Todos estes pilares nos trarão crescimento consistente, não desenvolvimentismo caótico. Foi gratificante ver que nossos estudos e pareceres ecoaram perante o Conselho, o Ipurb, a Prefeitura e a Procuradoria do Município e conquistamos uma votação favorável ao nosso pleito de 8 a 2.”

No documento, a Aprovale demonstrou ser favorável aos empreendimentos bilionários que podem gerar milhares de empregos para Bento Gonçalves e região, entretanto, a localidade deve mudar.

“Acreditamos que os projetos que foram propostos são fantásticos, belíssimos resorts e atraentes incorporações imobiliárias. Podem trazer grande desenvolvimento para nossa região se estiverem alocados nas regiões que mais deles necessitam, como alavanca de desenvolvimento social e econômico. Temos ao redor do Vale e da região demarcada várias áreas precisando destes investimentos e seria maravilhoso ver o território vitivinícola ser expandido através de projetos inspirados no mundo do vinho. Propusemos várias alternativas plausíveis, mas que também preservem a paz, a mobilidade, as atividades rurais e principalmente nossos vinhedos.” Escreve.