EDUCAÇÃO E TRABALHO

Pesquisa aponta que 64% dos alunos do ensino médio em Bento Gonçalves já trabalham

Estudo da UCS e do Bento+20 também traçou perfil de trabalhadores e revelou percepções sobre emprego e futuro profissional

Pesquisa aponta que 64% dos alunos do ensino médio em Bento Gonçalves já trabalham
Pesquisa aponta que 64% dos alunos do ensino médio em Bento Gonçalves já trabalham | Foto: Gabriel Stella/Divulgação

Uma pesquisa realizada pela UCS Bento, em parceria com o Bento+20, apontou que 64% dos estudantes do ensino médio em Bento Gonçalves já exercem algum tipo de atividade remunerada. O estudo ouviu, entre abril e agosto, 443 alunos e 283 trabalhadores de mais de 35 bairros do município, analisando aspectos relacionados à educação, mercado de trabalho e perspectivas futuras.

De acordo com os dados, 45,6% dos estudantes trabalham como menor ou jovem aprendiz, enquanto 18,5% estão no mercado informal. A indústria e o comércio concentram a maioria das ocupações formais, com 36,6% e 31,3% dos vínculos, respectivamente. Também ficou evidente a diferença entre redes de ensino: 52% dos estudantes da rede pública têm emprego formal, contra 19% da rede privada. Já 61% dos alunos de escolas particulares não trabalham, índice que cai para 30% entre os que estudam na rede pública.

Segundo o presidente do Bento+20, Roberto Meggiolaro Junior, os números ajudam a entender melhor o comportamento da juventude e o futuro da cidade.

“Percebemos como o jovem entra cedo no mercado de trabalho e como eles querem prosseguir se qualificando após o ensino médio. Ao mesmo tempo, temos um indicativo para trabalhar na questão do turismo, uma das nossas forças econômicas, apontada pelos estudantes como uma das áreas de menor interesse para trabalhar”, destacou.

Entre os que ainda não atuam, 67,3% manifestaram interesse em ingressar no mercado como jovem aprendiz, com maior procura entre alunos da rede pública (71%). Setores como agricultura (42,5%), turismo (24,2%) e indústria (13,6%) foram os mais rejeitados. Ao avaliar o significado do trabalho, os estudantes deram a maior nota (9,5) à afirmação de que representa “assumir novas responsabilidades”. A menor (4,5) foi para a ideia de que “a vida só tem sentido quando se envolve com o trabalho”.

Conforme o sub-reitor da UCS Bento, professor Fabiano Larentis, a percepção dos jovens mostra equilíbrio entre visões positivas e negativas.

“Os maiores níveis de concordância estão nas dimensões de realização pessoal e nos aspectos positivos do trabalho. Já as menores médias aparecem em relação à centralidade do trabalho e à dimensão econômica”, analisou.

Em relação ao futuro, 72,7% dos alunos afirmaram querer ingressar no ensino superior. O índice, no entanto, varia conforme a rede de ensino: chega a 91% entre os estudantes de escolas privadas e cai para 68% na rede pública. Outros 18,5% pretendem cursar o ensino técnico, 4,7% não querem seguir estudando e 4,1% preferem qualificações de menor duração.

Trabalhadores priorizam estabilidade e qualificação

O levantamento também traçou o perfil dos trabalhadores de Bento Gonçalves. Entre os entrevistados, 84% têm carteira assinada, 73% atuam na indústria e 24,4% no setor de serviços. Do total, 24% possuem pós-graduação e 23% graduação, fator que se reflete na renda: 59% recebem acima de R$ 4.501, sendo que 39,1% superam os R$ 6 mil. Entre os graduados, esse índice chega a 82%.

Ainda segundo Larentis, a pesquisa confirma uma forte busca pela formação contínua.

“Atualmente, 36% dos trabalhadores estão fazendo algum curso e 78% pretendem iniciar uma nova qualificação futuramente, principalmente nas áreas de gestão, humanidades, saúde e tecnologia”, observou.

A maioria dos entrevistados (51,6%) tem entre 30 e 45 anos. Embora a estabilidade prevaleça, 19% manifestaram interesse em trocar de emprego, principalmente em busca de salários maiores (54%), melhores ambientes de trabalho (31%) e proximidade da residência (22%).

Ao avaliar o trabalho, as respostas mais positivas apontaram que ele significa “assumir novas responsabilidades” e “possibilidade de utilizar minhas capacidades e competências”, ambas com nota 9,2. Já as percepções menos aceitas foram associadas ao estresse (3,5) e às preocupações constantes (3,7). Para Larentis, essa visão varia conforme a idade:

“Trabalhadores de 19 a 29 anos apresentaram médias menores nas dimensões de realização, aspectos positivos e centralidade do trabalho. Isso mostra que, para os mais jovens, há outros elementos da vida que também ganham relevância, o que se conecta com mudanças geracionais”.

Meggiolaro avalia que tanto estudantes quanto trabalhadores veem o trabalho como parte essencial da realização pessoal, o que contribui para a força da cidade.

“É uma relação associada à realização, que coloca o trabalho num ambiente positivo e como motivo para a construção de uma sociedade com mais oportunidades”, afirmou.