Caxias do Sul - O aumento repentino nas contas de energia elétrica na Serra Gaúcha virou caso de investigação. O Procon de Caxias do Sul confirmou, nesta sexta-feira (22), que recebeu mais de mil relatos de consumidores desde junho sobre cobranças consideradas abusivas. Desse total, 200 já se transformaram em reclamações formais.
De acordo com o órgão, as denúncias serão encaminhadas na próxima semana ao Ministério Público Estadual e à AGERGS (Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados) para possível apuração de irregularidades.
“A iniciativa busca garantir transparência na cobrança e verificar se os reajustes estão sendo aplicados de forma correta e justificada”, afirmou o coordenador do Procon, Jair Zauza.
Caso revelado pelo Leouve
A mobilização começou após uma reportagem publicada em primeira mão pelo Portal Leouve, que reuniu mais de duas centenas de faturas enviadas por moradores de Caxias do Sul e de outras cidades da Serra. Todas apontavam aumentos expressivos de um mês para o outro, em alguns casos chegando a triplicar o valor cobrado.
A denúncia motivou inclusive uma reunião pública na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, realizada na última terça-feira (19), com a participação de consumidores e lideranças políticas.
Relatos e Reclamações
Nas redes sociais e no site Reclame Aqui, centenas de reclamações reforçam o problema. Um dos moradores relatou que a fatura, que não passava de R$ 143 há quatro anos, saltou para R$ 441 em agosto, sem alteração no consumo. A irmã dele, que também mora sozinha, recebeu uma cobrança de R$ 550.
Outro consumidor contou que o valor subiu 700% em apenas um mês.
“Mais da metade do meu salário foi para pagar energia elétrica. Isso não é só desrespeito, é crueldade”, disse.
Há ainda registros de contas que pularam de cerca de R$ 150 para mais de R$ 2 mil.
Problemas no Atendimento da RGE
Além dos valores elevados, a população denuncia dificuldades no atendimento da concessionária RGE. Segundo os consumidores, protocolos são abertos sem retorno, chamadas telefônicas não são atendidas e o aplicativo apresenta falhas.
“É um monopólio que não dá explicações e ainda dificulta qualquer tentativa de contato”, desabafou um morador.
Posicionamento da RGE e Orientações do Procon
Procurada, a RGE informou que os aumentos são resultado de três fatores principais:
- Revisão tarifária de 14,4% aprovada pela Aneel, que não havia sido aplicada em 2024 por conta das enchentes;
- Ativação da bandeira vermelha patamar 2, que adiciona R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos;
- Maior consumo no inverno, especialmente com o uso de aquecedores.
O gerente de serviços comerciais da empresa, Fábio Calvo, em entrevista aos comunicadores Maicon Rech e Kaiobá Sputinik, da Rádio Viva 94.5 FM, citou o exemplo de um cliente que comprou um aquecedor e, com o uso diário, triplicou sua conta.
A concessionária explicou ainda que, quando a leitura não é realizada, o valor pode ser calculado com base na média dos últimos 12 meses, o que pode gerar distorções. Na área rural, a cobrança por estimativa é permitida em dois dos três meses do trimestre, salvo se o consumidor enviar manualmente a leitura.
Casos extremos, como a conta que subiu de R$ 150 para R$ 2.663, segundo a empresa, precisam ser analisados individualmente.
Orientações do Procon
- O Procon recomenda que os consumidores:
- Conferirem se o número do medidor corresponde ao da fatura;
- Analisem o histórico de consumo e a média anterior;
- Desliguem os aparelhos para verificar se o medidor continua registrando gasto;
- Registrem reclamação junto à RGE e, se não houver resposta, acionem o Procon.
Atendimentos podem ser feitos pelo site www.proconcaxias.com.br
, pelo telefone 151, WhatsApp (54) 9 9929-8190 (somente mensagens) ou presencialmente na Av. Itália, 109, bairro São Pelegrino, de segunda a sexta-feira, das 10h às 15h.