RESGATE HISTÓRICO

A roupa dos Imigrantes Italianos

O que o vestuário revelava sobre a vida, o tempo e a cultura dos colonizadores

Foto: Henrry Palla / Reprodução
Foto: Henrry Palla / Reprodução

Quando falamos sobre os imigrantes italianos que chegaram à Serra Gaúcha, logo pensamos na fé, na língua, nos costumes e no trabalho. Mas… e as roupas? O que eles realmente traziam na bagagem? Como se vestiam no dia a dia e o que isso nos conta sobre aquele momento histórico, econômico e cultural?

No podcast Eco Dela Storia, a pesquisadora Véra Zattera nos ajudou a abrir o baú do passado. E o que encontramos lá é muito mais do que moda: é história viva.

Foto: Henrry Palla

As mulheres imigrantes desembarcavam no Brasil usando saia longa, blusa, avental e um lenço atravessado no peito, roupas que já usavam nas montanhas da Itália, práticas e quentinhas para o clima frio. A simplicidade era regra:

“Os acessórios utilizados eram uma bíblia, um lenço e mais nada”,
conta a pesquisadora.

Reprodução: Vestindo Moda, de Véra Zattera

Havia o avental de trabalho, usado na lavoura e nas tarefas de casa, e o avental domingueiro, feito de seda e guardado com carinho para a missa.

“Descobri que minha avó tinha um avental desses, dobrado numa gaveta. Só era usado aos domingos. Era uma peça muito especial”, lembra Vera.

Para as gestantes, existia a bata , uma blusa larga com recorte logo abaixo do busto. No início da gravidez, era usada por dentro da saia; nos meses finais, passava a ser usada por fora.

Reprodução: Vestindo Moda, de Véra Zattera

Já nos anos 1920, começaram a surgir os casaquinhos ajustados à cintura, geralmente usados por mulheres mais velhas. Era a influência da moda das cidades, que chegava por meio de revistas vindas da Argentina e do Uruguai, trazidas por mascates. A chegada do trem a Caxias do Sul, em 1910, também acelerou essas mudanças.

Reprodução: Vestindo Moda, de Véra Zattera

E os homens? No campo, a “fatiota” — conjunto de calça e casaco — era o traje especial para ocasiões importantes. Na cidade, ganhava também o colete. No interior, predominava a camisa sem gola; nos centros urbanos, a camisa com colarinho era mais comum.

Reprodução: Vestindo Moda, de Véra Zattera

Um detalhe marcante era o uso prolongado das roupas e calçados. As peças eram usadas até se desgastarem. Em famílias numerosas, geralmente uma filha aprendia a costurar para vestir todos. Tecidos eram comprados em rolos e aproveitados ao máximo. Sapatos passavam de irmão para irmão, sem distinção de gênero.

A vestimenta dos imigrantes italianos na Serra Gaúcha é um retrato fiel dos primeiros anos de dificuldades na nova terra: roupas simples, confortáveis, resistentes e preparadas para o frio. Mais que um detalhe do passado, elas guardam a memória de um povo que costurou sua história com trabalho, fé e resiliência.

Reprodução: Vestindo Moda, de Véra Zattera