A guerra entre Rússia e Ucrânia segue fazendo cada vez mais vítimas e um rastro imensurável de destruição, mesmo quase três anos após o seu início. Na linha de frente desta batalha, está o farroupilhense Cleiton Cordeiro, de 35 anos.
Morador do bairro Primeiro de Maio, Cordeiro está lotado em uma unidade de inteligência militar do Exército da Ucrânia, há cerca de dois meses. Antes de começar a lutar no conflito, ele trabalhava em uma academia, sendo instrutor de Muay Thai e ainda atuava como segurança de uma empresa privada.
Ao Portal Leouve, ele revelou que já havia realizado tentativas de ingressar no Exército Brasileiro quando tinha a idade permitida, porém não obteve sucesso.
“Se tornou algo distante pra mim. Foquei em minha carreira na luta, me tornei lutador profissional destaque do meu Estado e país por alguns anos. Com o passar do tempo me tornei instrutor, formei alguns atletas e ajudei a melhorar a saúde de muitas pessoas com treinamento físico”, relembra ele.
Agora, a rotina de Cordeiro é outra. Atuando como fuzileiro do Departamento de Inteligência da Ucrânia, o foco está 100% na guerra.
“A rotina, quando em base, é de treinamento físico. Treinamentos que englobam tudo que compõe as missões de assalto emboscada, treinamento tático e de saúde entre outros. Em missão não temos rotina”, salientou.
Os desafios são inúmeros. A tecnologia empregada no combate, principalmente com os drones cada vez mais difíceis de interceptar, torna as artilharias inimigas cada vez mais perigosas e letais. A imersão da guerra faz com que os dias superados sejam comemorados, levando em conta os perigos que uma missão como esta envolve.
“Principalmente o [perigo] de morrer ou de ficar ferido, esses são os principais pois tudo acontece de forma instantânea aqui. Até quando não estamos em missão corremos riscos de ataque, principalmente de drones shaheds ou mísseis planadores que a Rússia larga a esmo, muitas vezes atacando civis”, afirmou Cordeiro.
Segundo Cordeiro, estar na guerra representa profissionalismo e também a espera por oportunidades futuras. Um acordo para o fim da guerra parece cada vez mais distante na visão dele, pois a Rússia não respeita acordos, e tem mostrado que quer dominar a Ucrânia como um todo. Cordeiro salienta o temor pelo confronto se prolongar por muitos anos, principalmente se países do Ocidente continuarem mandando ajuda aos ucranianos.
“É uma cena que não desejo a nenhum local nesse mundo. O desespero e a tristeza vista nos olhos principalmente de inocentes feridos trás muita dor aos olhos de quem vê isso. Estamos aqui para ajudar a combater esse inimigo ambicioso que assola o mundo com seu poder e com seu perverso sistema comunista. A Rússia não se importa com a vida dos próprios soldados, muito menos com inocentes e isso já foi visto pelo mundo inteiro. Espero que alguém pare esse presidente”, concluiu, citando o presidente russo Vladmir Putin.
Ele alertou que existem páginas brasileiras que induzem jovens, sem qualquer experiência ou perfil de combate, a lutar na guerra. A consequência muitas vezes pode ser a morte destas pessoas, já que elas não passam por um treinamento de qualidade para enfrentar as circunstâncias de um conflito.
“Eles falam que os salários chegam a R$ 27 mil. Essa é mentira usada para seduzir o pessoal para vir pra cá. Eles não explicam que pra ti chegar nesse salário é preciso ficar 31 dias na Linha 0, que é quase impossível você permanecer sem ser mutilado ou morto”, salientou.
No momento, Cleiton Cordeiro não tem qualquer expectativa de quando vai voltar pra casa. Mesmo com toda a força do exército russo, ele afirma que os combatentes ucranianos são muito resilientes e aguerridos, então, segundo seu ponto de vista, o conflito está longe de terminar.