Memória LEOUVE

Vizinhança incômoda

Vizinhança incômoda

Imagine que você tenha uma loja no centro ou em algum bairro e na frente da sua vitrine exista um pequeno muro atraente para que os jovens sentem e ali permaneçam por hora fazendo aquilo que tenham de sobra: gastar o tempo sem nada de produtivo a fazer. Agora se você não tem uma loja, imagine que na frente do seu edifício exista uma marquise e o local seja escolhido para que moradores de rua, os famosos sem teto deitem sobre papelões e façam do pedaço desta calçada lugar seu dormitório.


A reação num e noutro caso tende a ser um pouco diferente, mas em ambas as situações o dono do imóvel, aquele que paga IPTU e trabalha para dar praticamente um terço de sua renda ao Governo que deveria dar proteção social |às pessoas, este dono do imóvel não vai compactuar nem com desocupados que fiquem sentados em frente |à sua vitrine, nem com sem tetos que além de dormir começarão a sujar as imediações, seja com restos de comida, seja com excrementos.


Poisem Porto Alegre, esta semana, um condomínio instalou uma grade sob sua marquise, na calçada. Retirou um pedaço do passeio público apenas para impedir que moradores ali quisessem dormir. Como condenar oc condôminos se as prefeituras já usam deste expediente fechando vãos em viadutos e pontes?
Como tratar pobres e desamparados? Neste mundão de Deus que vivemos hoje na base do cada um por si, nada mais justo do que quem paga imposto e paga caro para manter sua propriedade privada, tentar afastar intrusos que em nada contribuirão para a manutenção da ordem e da limpeza na vizinhança.


Sociólogos e teólogos dirão que estamos criando barreiras, negando direitos e ferindo princípios éticos. Mas e a velha premissa de que o seu direito termina aonde começa o direito do outro?


Neste paísnunca se transferiu tanta renda quanto na última década e se pode ter a certez de que ainda é pouco. Falta muito a fazer e há muita injustiça nesta distribuição de riquezas. Mesmo assim é preciso manter um pouco de ordem e garantir que a classe média não seja vilipendiada ela nos seus mínimos direitos. A quem caberá dizer o que fazer com os sem teto? Certamente ao conjunto da sociedade. Mas enquanto isto vamos torcer para que grade e obstáculos em calçadas ou na frente das vitrines não se tornem praxe.