Você que me acompanha neste espaço sabe que não é de hoje que eu defendo a necessidade de uma ampla reforma política pra depurar de vez o nosso carcomido sistema político tupiniquim.
Mais do que isso, se você lembra um pouco do que eu tenho dito a respeito, sabe que eu defendo que essa reforma não pode ser feita exclusivamente pelos políticos, mas é preciso garantir a participação de toda a sociedade organizada.
O motivo é óbvio, né? Porque, infelizmente, é impossível pensar que os nobres deputados e senadores vão jogar contra seus próprios interesses corporativos e de perpetuação no poder; e porque não podemos deixar que aqueles que nos revoltam e entristecem hoje finjam que estão propondo uma automoralização, e aceitar que eles nos enganem mais uma vez.
Por isso mesmo, eu tenho os dois pés atrás com essa reforma que acaba de ser aprovada em primeiro turno no Senado esta semana. A proposta acaba com as coligações a partir de 2020, enterra de vez as reeleições e estabelece uma cláusula de barreiras que pode acabar com a farra lamacenta de 35 partidos registrados hoje e mais de 30 buscando regularização no Tribunal Superior Eleitoral pra poder também chafurdar na mesma pocilga eleitoreira.
Em tese, são pontos positivos, mas ainda é muito pouco, porque a tal reforma não toca em reformar o que mais precisa ser reformado: a maneira como a gente elege os nossos digníssimos representantes.
A verdade é que todo o sistema atual está degradado, esgotado, viciado e corrompido. Um sistema onde os eleitores não votam nas propostas dos candidatos e os candidatos não pautam suas campanhas por ideias programáticas. Um sistema onde o dinheiro faz e desfaz candidaturas e a prática clientelista dos pequenos favores reduz a política a um balcão de comércio do fisiologismo que faz de todos nós, os botocudos, cúmplices diretos de um sistema que alimenta o moto-contínuo da corrupção.
Por isso, se essa reforma não for realmente profunda, o resultado disso será apenas institucionalizar o que já vem ocorrendo: a transformação sistemática da cidadania em mercadoria.
Por isso, é preciso ter em mente, de uma vez por todas, que a reforma política não deve ser feita pros partidos e nem pelos partidos, ou pros políticos e nem pelos políticos, mas pro povo e pelo povo; e que não pode servir pra acomodar interesses eleitoreiros, mas, ao contrário, precisa destruir esse sistema que está corroendo a política como forma de garantir o bem comum.