Que o crescimento de quase 35% no número de latrocínios, aquele crime absurdo em que o bandido mata depois de roubar a vítima, que o aumento alarmante do número de assassinatos e que o crescimento da atuação de organizações criminosas e do tráfico de drogas assustam toda a sociedade, não é novidade.
E todo mundo está cansado de saber que os índices preocupantes que apontam o aumento da criminalidade em todo o estado exigem respostas imediatas e políticas eficazes patrocinadas pelos governos, mas infelizmente, a realidade mostra que alguma coisa fugiu definitivamente do controle.
E talvez a prova mais definitiva disso seja o pedido da Ordem dos Advogados do Brasil, que está em campanha aberta para recolher assinaturas da sociedade para exigir a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para analisar o tema na Assembleia gaúcha.
A ideia da OAB é que a CPI é para tratar historicamente o problema e entender o que os governos fizeram e não fizeram ao longo dos anos.
Não é para ser uma caça às bruxas, mas sim uma oportunidade de dialogar com entidades, governos atuais e anteriores, e abrir um franco debate para buscar soluções pra esse problema que afeta diariamente a vida de todo cidadão.
A intenção é louvável, e pretende identificar e avaliar se as medidas do governo pra combater a criminalidade estão sendo eficientes e pra projetar novas ações decididas em conjunto por toda a sociedade pra enfrentar o problema.
Pode ser sim uma boa ideia, caso a CPI não repita a malfadada sina de quase todas as outras capitaneadas pelo Legislativo gaúcho: o forno da pizzaria.
Mas infelizmente, é difícil acreditar que uma CPI possa mesmo acrescentar algum ingrediente que mude o sabor desse caldo de irresponsabilidade, negligência, descaso e incompetência que aflige as políticas governamentais de segurança pública. E não é de hoje.
O próprio líder do Governo na Assembleia já disse que não acredita que a CPI possa resolver o problema, e que ela vai apenas desviar o foco sem produzir resultados práticos.
E o pior é que ele pode bem ter razão, porque não podemos duvidar que os nobres deputados possam aproveitar a comissão pra chafurdar no terreno lamacento das acusações políticas de caráter eleitoreiro, afinal, 2018 está logo ali, em vez de debater o que realmente interessa.
É certo que o governo atual demorou pra tomar medidas efetivas, que deixou de nomear novos policiais por dois anos e que seguiu tentando encobrir a realidade com uma peneira que escancarou as incertezas e a falta de habilidade política do governo nos primeiros anos de gestão, mas agora isso não interessa mais.
Não se trata de apontar culpados.
O que interessa é a criação de um sistema único e permanente de segurança pública que não mude quando muda o governo, o estabelecimento de investimentos permanentes na qualificação do sistema de repressão aos crimes, uma política especial que evite o sucateamento das forças policiais, uma parceria permanente pra qualificar as ações nos municípios e uma solução definitiva pro histórico problema entre onde prender e quando soltar o delinquente.
O certo é que precisamos agora resgatar a própria CPI, desmoralizada pelo mau uso que privilegia artimanhas para defender interesses individuais e partidários em vez de prestigiar seu caráter investigativo e cumprir seu papel social.
Por isso, se uma nova realidade pode surgir através de uma cpi séria, que ela seja saudada. Mas o fato é que, não importa qual será o instrumento pra unir a sociedade em torno do tema, essa união, independente de partido ou interesses, é fundamental pra garantir que essa realidade mude, porque a grande vítima da insegurança, todo os dias, é toda a sociedade.